Virgílio enalteceu o amor como uma força capaz de superar obstáculos, que une almas destinadas a se entrelaçarem na vastidão do tempo. O místico sufi Rumi falou do amor como uma jornada espiritual, uma fusão com o divino que transcende as fronteiras da razão. Shakespeare explorou as complexidades do amor em todas as suas facetas, desde a paixão arrebatadora até as nuances sutis do companheirismo. Emily Dickinson explorou as complexidades do amor em sua poesia, contemplando temas como paixão, saudade e os aspectos enigmáticos da conexão humana. Pablo Neruda, em "Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada", expressou o amor com imagens vívidas e sensuais, capturando a intensidade e nuances dos relacionamentos românticos. García Lorca tratou do amor em conexão com a natureza e com o espírito humano.
Quem sabe seja a música que, entre as linguagens humanas, consiga exprimir palidamente o amor.
Tchaikovsky, na sua representação musical da tragédia shakespeariana Romeu e Julieta, abordou o tema. Wagner também o fez em sua ópera Tristão e Isolda, que explora o amor proibido entre os amantes medievais. Puccini, com Madame Butterfly, conta a história de amor entre a jovem japonesa Cio-Cio-San e o oficial naval americano Pinkerton.
Outros autores preferiram ir em busca de melodias que expressassem o Amor de Deus pelos seres humanos, numa tentativa de exprimir um nível superior desse sentimento. Foi o caso de Händel, com seu Messias, que trata do amor divino e de redenção; de Bach, em sua Paixão Segundo São Mateus, na qual o autor procura expressar a devoção divina pela humanidade, através do sacrifício de Jesus. Na peça, a harmonia rica das vozes do coral, adicionam uma dimensão emocional profunda à composição. A obra culmina na crucificação, mas termina com uma reflexão sobre a esperança. A música final expressa a confiança na promessa de vida eterna.
No Banquete, Platão diferenciou três tipos de "amor": o Eros, o sentimento romântico, apaixonado e sensual, associado ao desejo físico e à atração entre amantes, motivada pela busca da beleza e da união corporal. O filósofo advertiu que este tipo de amor oferece um risco: o perigo do apego ao amor puramente físico e temporário. Por sua vez, o amor Philos se refere ao amor fraternal, de amizade. Platão enfatiza a importância desse tipo de amor na construção de relações sólidas e duradouras. Segundo ele, a amizade baseada em valores, interesses comuns e respeito mútuo é uma forma valiosa de amor, que promove o desenvolvimento pessoal e o bem-estar coletivo. Por fim, o Ágape é descrito como o amor altruísta, caridoso e desinteressado, uma forma mais elevada de amor, que transcende as necessidades individuais, sendo essa forma de amor marcada por uma intensa compaixão e generosidade, que busca o maior benefício para o outro.
É inevitável reconhecer que o amor "Ágape" é a forma mais desinteressada de amor, aquela caracterizada pela doação sem medida, pelo sacrifício em prol de quem se ama, pela renúncia das conveniências pessoais, numa doação que remete ao amor maternal, cujo ímpeto se desdobra num cuidado radical.
A história de Mary Ann Bevan ilustra bem este nível radical de amor. Nascida no final do século dezenove, ela era uma mulher saudável, de aparência comum, até ser vitimada pela acromegalia, condição que desfigurou a sua face. Com a morte do marido, sua família perdeu sua única fonte de renda e Mary Ann se viu forçada a encontrar um modo de sustentar a sua família. Resolveu, então, num gesto desesperado, usar sua condição física, considerada repulsiva e monstruosa pela maioria das pessoas. Procurou um circo e passou a ser representada como “a mulher mais feia do mundo”, submetendo-se a ser ridicularizada e humilhada, através de apresentações constantes, para garantir a sobrevivência dos seus filhos. Mary Ann queria se esconder da sociedade que a massacrava, por causa de sua aparência, mas se dispôs a ser objeto de um espetáculo mórbido e bizarro, para que aqueles a quem amava pudessem ter uma chance.
O amor de mãe é capaz de sacrifícios imensos, até incompreensíveis para a maioria. O versículo 15 do capítulo 49 de Isaías ressalta isso, ao perguntar “acaso, pode uma mãe se esquecer do seu filho?”, dizendo, porém que, ainda que isso ocorresse, Deus não se esquece. O profeta sugere que somos todos assistidos por um cuidado maior, intraduzível, superior, inefável, como o verdadeiro amor é.
Amantes podem se trair e se abandonar, amigos podem se distanciar, e até mesmo uma mãe pode negligenciar um recém-nascido necessitado de sua atenção, mas sempre podemos clamar a uma instância que jamais nos deixa sós, que, mesmo diante das maiores dificuldades, está sempre zelando por nós, e com a qual podemos contar como caminho para encontrar conforto e enfrentar desafios.
Quem tanto nos ama, merece a nossa entrega incondicional, além de nossa total confiança. Aquele que mais nos ama, apesar de toda devoção que nos dedica, merece ser amado pelo que simplesmente é. Rabia, a poetisa Sufi do século IX, falou disso em seus versos: “Se eu te adorar por medo do inferno, queima-se no inferno. Se eu te adorar pelo paraíso, exclua-me do paraíso, mas se eu te adorar pelo que tu és, não escondas de mim a Tua Face.”