Uma data que não esqueço. No dia 5 de fevereiro de 1975, publiquei minha primeira crônica no jornal O Norte. Um texto curto. Falava de uma viagem à Serraria, onde amanheci depois de quatro anos de ausência. Um texto telúrico, recheado de saudades.
Para publicá-lo, como fazia em outras oportunidades, Nathanael Alves “passou a vista”. Era um exercício maravilhoso para a aprendizagem. Ele realizava a revisão com paciência, apontava os excessos no emprego dos adjetivos.
Devo muito a esse conterrâneo que me ajudou a construir, passo a passo, a base de minhas leituras. Exercitamos juntos a literatura, a arte de escrever e de estar na convivência com escritores, artistas, pensadores.
Ainda convivi, nas românticas redações de jornais, com repórteres e cronistas que se reuniam, depois de concluída a edição do jornal, fechada a última página, para comentar os acontecimentos do dia.
Ao final da década de 1970, passei a frequentar a redação de O Norte como copiador de telegrama das agências de notícias e, eventualmente, repórter noturno. Participei de grupos que, entre uma cerveja e outra, muitos assuntos comentávamos.
Tomei conhecimento de que Nathanael, Martinho Moreira Franco e Gonzaga Rodrigues discutiam entre si os artigos antes de sua publicação. Eles compunham uma versão mineira dos “quatro cavaleiros do apocalipse”, grupo de Minas Gerais formado por Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pelegrino e Paulo Mendes Campos e que ganhou dimensões sempre lembradas pelas produções literárias de cada um.
O trio paraibano afinou o passo, ou melhor, a escrita, e revelou os caminhos para a crônica como literatura. Cinco décadas depois, Gonzaga mantém o hábito semanal de publicar uma crônica resgatando fatos do cotidiano com a maestria de sempre. Martinho e Nathanael alcançaram outra dimensão. Todos deixaram seu legado na imprensa paraibana, sobretudo como cronistas do cotidiano.
Nos anos de 1980, ainda engatinhando no mundo das letras, recorri aos conselhos de Nathanael. Depois que o vento anunciou sua presença entre as estrelas no firmamento, Gonzaga continuou me dando o compasso da escrita.
Uma frase fora do contexto em recente crônica sobre o beija-flor que fez ninho no pátio da empresa onde trabalho foi motivo para me chamar a atenção. Gonzaga me telefonou apontando o deslize.
Em quase cinco décadas de convivência, aprendi bastante com os três amigos – Nathanael, Martinho e Gonzaga. Eles raramente escreviam uma frase troncha. Com o passar do tempo, amiúde, Gonzaga revelou as raízes da boa forma na elaboração da frase, no uso da palavra correta.
Esses amigos e mestres deram lições que me prepararam para convivência com as palavras, com as artes e com os livros. Com os monges primitivos, aprendi que caminhar purifica os pensamentos e evita usar palavras desconexas ao escrever um texto. É sempre valioso o olhar crítico de alguém, mais precisamente de um estudioso ou de um crítico literário.
Desde os primeiros passos no jornalismo, há pelo menos cinco décadas, os conselhos de Gonzaga vieram se juntar ao que Nathan transmitia. Escrever é buscar, sempre, a magia das palavras para montar o retrato que se deseja.
Dos três, me resta Gonzaga, a quem recorro nas minhas aflições literárias.