Estranho ser
Erguer-se sã
Vencer
Estranho a luta
Contra "o quê?"
- Não sei, não luto!
Estranho a casa
Em que sou
Estranho
O vento
Varrendo o tempo
Lavando as roupas
Dobrando esquinas
Esfolando nucas
Regando cérebros
Estranho o ser
Entre os gametas
E a salvação
Revoadas de sonhos
Em rubro entardecer
Embriagado de saudades
Na rua onde moro
Passa um rio de gente
Uns descem pelo ralo
Outros ficam pendentes
Muitos entulham a rua
Mas muitos mais iluminam
Alguns conhecem as esquinas
Há os que são dementes
A minha rua anda sozinha
Mas sempre cheia de gente
Uns vão para o trabalho
Outros para um mundo indigente
E eu fico na janela
Hora sei que sou ela
E me sinto na corrente
Hora fico tão triste
A minha rua existe
No tempo e no espaço
Ela tem a cor do dia
Tem o jeito que eu faço
Voz rouca na vitrola
Estanca o vazio
E espanca a casa
Faz rugir o homem
De um olho de cada cor
("Rock'n'Roll Suicide"?)
E a mulher de voz blues
Raspada na garganta
("Cry Baby"!)
Eram cantos de ninar
Histórias de luta
Não era só maconha
Os sobreviventes finalmente
Entenderam
Que o por do sol ainda dói...
Até que não levante mais
Mas a existência também
Se espraiou para além de querer
Mudar o mundo
E se mudou!
Hoje no Spotify
Ainda há o homem de um olho de cada cor
E a mulher de voz raspada na garganta