CAÍRAM AS FOLHAS Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que...

Caíram as folhas

poesia capixaba jorge elias neto
 
 
 
CAÍRAM AS FOLHAS
Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que alimentaram Apenas a meia-volta da memória se despede, vez ou outra E sigo na constância, e os dias, sim, brotam Mas sem as folhas, Que, dispersas, me calçaram o egoísmo.
A LATERALIDADE DO VOO
A desventura ensina o possível do voo, o caminho pela passagem estreita onde transborda o vazio.
DO CASTO RETIRO DE UM POETA
Aos que enchem de óleo as trincheiras para reacendê-las
Lembrem-se dos ossos de aluvião, das marcas d’água da memória; passos sem rumo de seus ancestrais, da noite subindo ao céu e os tons das cinzas tingindo a história com o desassossego humano.
O ÚLTIMO
(Por que o último, se existe o contínuo da expectativa?) Os riscos ocupavam todas as paredes do cômodo Custava revirar os olhos e contá-los (na verdade era impossível) Havia espelhos dependurados, nenhum espaço para incluir um sonho e uma possibilidade de saber do infinito E naquele entorno, que era (parte)eternidade, se despejava o desejo humano (Um jeito singular de saber criar histórias e de ignorar que do início ao fim existe um beiral de angústias e um insaciável vontade) Daí o último como um marco aleatório, uma porta para o vazio, uma borracha a recriar espaço, liberando um “sendero” de luz, uma passagem.
A ESCRITA É UMA LIGA DE SANIDADE
Muitos diriam para não fazer estes malabarismos de palavras sem sentido Diriam que a seta é a cura para a obtusa tortuosidade do nômade Mas buscar o visgo na ressurreição diária faz lampejar os olhos O Eu triturado renasce, não sóbrio, pois a vida não permite Talvez embriagado por uma certa beleza que consiste na insistência De perfilar olhares tristes e distribuir sementes.

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