A arte dá um sentido estético à vida. Consequentemente, o indivíduo suporta as próprias angústias a partir da subjetividade de uma obra...

Arte como identidade

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A arte dá um sentido estético à vida. Consequentemente, o indivíduo suporta as próprias angústias a partir da subjetividade de uma obra de arte, a qual dignifica a existência humana. Em todo indivíduo existe um inconsciente que constitui o seu pertencimento, impossível de ser conhecido pela razão. Essa região inacessível se desloca em forma de pulsões e influencia a forma de pensar, de agir e a própria sensibilidade.
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Vestimentas tradicionais da TurquiaRacinet, S.XIX
Ela se condensa numa cadeia de representações, caracterizada como um prazer e substituída pela percepção da realidade.

Nessa realidade, o indivíduo é influenciado e se integra na cultura em que está inserido. Os seus desejos apresentam-se em forma de prazer e desprazer, gerando tensão entre o consciente e inconsciente. É na cultura que o ser humano amortece as suas ansiedades e mantém uma estética na própria existência, sublimando e construindo a dignidade de se pertencer, para suportar-se diante dos seus conflitos internos e externos.

Na estética da existência há a beleza de existir. Nela, o indivíduo se suporta nas próprias errâncias, nas perdas da sensibilidade e da intuição. A arte reconstrói afetos. A estética existencial surge na cultura e se manifesta através do regionalismo, do folclore e do nacionalismo.

No regionalismo, deve-se considerar a representação de elementos constituídos a partir de uma localização geográfica, criados mediante fatores históricos, do comportamento, do sentimento coletivo, do gosto culinário e musical e das condições naturais de uma região fixa, tendo na linguagem uma forte característica e decisiva influência. O regionalismo é identificado por representar a nostalgia de um lugar e
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Povos originários da América do NorteRacinet, S.XIX
também as lembranças que preservam as características históricas de uma comunidade.

O folclore, que considera o saber tradicional de um povo, é constituído de anonimato, de aceitação coletiva, de transmissão oral e de espontaneidade. Tudo isso apresenta a simplicidade e suas expressões são individuais ou coletivas, transmitidas entre gerações. Por ser tradicional, nunca se modifica. O folclore é fixado por meio de mitos, contos, música, dança, crendices, jogos, brincadeiras e festas populares.

O nacionalismo, que se fundamenta nas iconografias de uma cultura, considera a poesia a mais autêntica arte como identidade de um povo.

A estética une as expressões do folclore, do regionalismo e nacionalismo à sensibilidade do comportamento humano. A poesia estimula a virilidade das virtudes para a dignidade de todos e a construção do bem-estar social, harmonizando a racionalidade com a sensibilidade, construindo a beleza de viver em equilíbrio com as tensões da existência. As manifestações artísticas moldam a identidade de um povo e fundamentam a ideia de pertencimento a uma cultura. A estética preserva as tradições, os sentimentos de comunidade e de nacionalismo.

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Trajes tradicionais do SenegalRacinet, S.XIX
O conceito de nacionalismo — que influenciou as identidades dos países — foi apresentado pelo filósofo alemão Johann Gottfried von Herder (1744—1803). Suas teses são expostas nestes livros: Ensaio sobre a origem da linguagem (1772); Filosofia da história para a educação da humanidade (1774); Ideias sobre a filosofia da história da humanidade (1784 a 1791). O pensador estabeleceu as leis gerais do desenvolvimento da história da humanidade e fez estudos sobre as culturas de diversos povos. Segundo ele:

“A poesia é a identidade de um povo, e que seria impossível a sobrevivência da arte sob condições de uma tirania relacionada com o abuso de poder e do ódio”.
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Músicos da ÍndiaRacinet, S.XIX
Na obra A Questão do Nacionalismo (1944), o historiador egípcio naturalizado britânico Eric John Ernest Hobsbawm (1917—2012) apresenta o desenvolvimento das tradições que criaram o Estado-nação. Ele afirma que os costumes são inventados por elites nacionais para justificar a importância de uma nação, ressaltando que o idioma deve ser usado para afirmar uma forte identidade nacionalista. Explica o autor:

“No início do século XIX, as revoluções industriais destruíram povoados que produziam uma agricultura artesanal. A produção industrial daquele período, especificamente na Inglaterra, aumentou as relações de produção e de troca tanto no comércio quanto no consumo, fortaleceu uma comercialização competitiva e um grande fluxo de mercadoria e contribuiu para organizar uma identidade nacional. As revoluções industriais e sociais impulsionaram nas nações e nos países a necessidade de supervalorizar o sentimento patriótico. Noutros casos, existiram conflitos que fortaleceram a unificação de alguns países”.
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Camponesas da ItáliaRacinet, S.XIX
A arte sempre apresenta as expressões de um nacionalismo por meio da música popular e erudita. No Brasil, os compositores eruditos valorizam os ritmos, o folclore, o regionalismo e os ícones. A origem da panbrasilidade contribuiu para massificar os pertencimentos e para dar visibilidade à ancestralidade do povo brasileiro: do índio; do negro e do branco nascido no Brasil. Esse processo pode ter surgido antes do século XVII. Sabe-se que vários documentos estão perdidos e que pesquisas são necessárias para documentar essas identidades. De forma fragmentada, o sítio oficial Musica Brasilis considera esse início a partir de 1819, com a fantasia L'Amoureux para piano e flauta pianista austríaco Sigismund von Neukomm (1778 – 1858).


No ano de 1857, tem-se a peça A Cayumba, do compositor campineiro Antônio Carlos Gomes (1836—1896), na qual é utilizado um ritmo originário de danças negras. Em 1869, é publicada A Sertaneja, do compositor paranaense Brasílio Itiberê da Cunha (1846—1913). No ano de 1887, na cidade do Rio de Janeiro, o cearense Alberto Nepomuceno (1864—1920) compõe a Série Brasileira e, em 1894, escreve Quatro Peças Líricas opus 13 (Anhelo; II. Valsa; III. Diálogo; IV Galhofeira). Em 1890, o paulista Alexandre Levy (1864—1892) compõe o Tango Brasileiro e a Suíte Brasileira. No ano de 1905,
o fluminense Francisco Braga (1868—1945) cria Variações Sobre Um Tema Brasileiro, para orquestra. No início do século XX, o pianista carioca Ernesto Júlio de Nazareth (1863—1934) apresenta obras populares e eruditas, entre as quais as mais conhecidas são: Apanhei-te, cavaquinho, Ameno Resedá (polcas), Confidências, Coração que sente, Expansiva, Turbilhão de beijos (valsas), Odeon, Fon-fon, Escorregando, Brejeiro, Bambino (tango brasileiro). Em 1924, o fluminense Lorenzo Fernandez (1897—1948) escreve o Trio Brasileiro e, no ano seguinte, apresenta sua Suíte Sinfônica. Em 1926, outro fluminense, Luciano Gallet (1893—1931) apresenta a Suíte Turuna. No ano de 1928, o paulista Camargo Guarnieri (1907—1993) compõe Dança Brasileira e Canção Sertaneja. Em 1929, o paulista Francisco Mignone (1897—1986) compõe sua primeira Fantasia Brasileira, para piano e orquestra. Entre 1920 e 1929, o fluminense Heitor Villa-Lobos (1887—1959) compõe a série de 14 Choros, iniciando, em 1930, a série das nove Bachianas Brasileiras. No ano de 1931, Guarnieri compõe a Sonata nº 1, para violoncelo e piano.


Atualmente, para compreender a má sorte e a dignidade de existir, faz-se necessário dimensionar o espaço da morada da angústia com a resiliência para suportar-se, associando a arte com a ética do respeito. Deve-se substituir a banalidade da existência humana para constituir a estética da existência, manifestadas pelas expressões do folclore, do regionalismo e do nacionalismo, com o estímulo da beleza da arte como fenômeno do comportamento humano para construir a própria felicidade. Essa atitude é uma defesa à liberdade, construindo a arte como identidade.
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