Bolonha é uma cidade de múltiplos olhares, onde se perder é a melhor forma de descobrir seus versos em segredo. A cidade de Dante, Petrarca, Paracelso e Durer, e tantos outros. É também conhecida na Itália como la dotta, la grassa, la rossa, ou a culta, a gorda e a vermelha.
La dotta, por ter uma das universidades mais antigas do mundo, data de 1088, que reúne estudantes de todo o mundo. La Grassa, pela culinária singular, a partir da famosa massa à bolonhesa. Finalmente, La rossa, pelo uso de tijolos vermelhos na maioria de seus prédios, com uma arquitetura única.
Universidade de Bolonha / Prato à bolonhesa / Arquitetura de Bolonha
Maria Firsova / Homescreenify / @tourlane.com
Por isso, apesar de estar à sombra da vizinha e magnífica Florença, tem sua própria magia e algumas singularidades.
Maria Firsova / Homescreenify / @tourlane.com
Há, por exemplo, uma janelinha secreta, na Via Piella, que se abre para um dos famosos canais de Bolonha, o canal do Reno. Só os mais atentos têm o deleite de encontrar. E é fascinante descobrir como, sob a cidade, passam 60 quilômetros de canais do rio Pó.
É a cidade que mais tem arcadas no mundo. São os famosos pórticos bolonheses, com cerca de 62 quilômetros de comprimento linear, em diferentes estilos arquitetônicos.
Canal do Reno / Pórticos bolonheses Hélder Moura / Thaddaeus Lim
E, então, sob as arcadas da Via dell’Indipendenza, uma surpresa. Nas proximidades da Piazza del Nettuno (já voltamos pra ela…), há, nos mosaicos da calçada, três frases latinas, que se propõem a simbolizar os prazeres da existência: "Panis vita, cannabis protectio, vinum laetitia". Algo como pão é vida, a cannabis protege (!), o vinho é alegria. A frase vem de uma época, século 17, em que a maconha não era proibida, e era considerada uma erva medicinal que, acreditavam, protegia o corpo.
Outra surpresinha em Bolonha são as famosas galerias de sussurros. Nelas, se alguém sussurra algo num lado da abóbada, outra pessoa pode ouvir à distância do outro lado da edificação. Um celular medieval. É quase uma bruxaria, mas bolonheses juram que tem uma explicação científica. De qualquer modo, é desconcertante observar que funciona.
Ali, próxima, está a Sala Borsa, a biblioteca de Bolonha, que funciona onde era o Palazzo d’Accursio, com uma peculiaridade talvez única: o piso do térreo é de placas de vidros e, andando por ali, estaremos quase que pisando sobre milenares ruínas etruscas, localizadas bem abaixo, no subsolo.
E são tantas outras singularidades nesta cidade, mas há uma história que também chama atenção. Pelo inusitado. Trata da revolta do escultor Giovanni de Bologna contra o cardeal da cidade.
Giambologna foi contratado pela Igreja para fazer uma estátua de bronze de Netuno, o pagão deus do Mar, em frente ao Palazzo d'Accursio. Naquele tempo, no século 16, o papa era o venerando Pio V. Então, quando a estátua de bronze estava quase pronta, o cardeal foi conferir o andamento. Mas, ficou horrorizado com o tamanho do pênis e determinou que o escultor reduzisse a envergadura, ou a Igreja não pagaria pelo trabalho.
Estátua de Netuno (Piazza Maggiore, Bolonha) Hélder Moura / @Expedia
Revoltado, mas obediente, Giambologna realmente diminuiu o membro de Netuno, mas, como todo artista rebelde, aprontou uma vingança. Quem se posta num certo ângulo, e apenas neste ângulo, nas escadarias da Sala Borsa, vai ver Netuno com um rebelde membro ereto. Na verdade, é apenas o… inocente dedo de Netuno apontando para a Piazza Maggiore.