O Buda Sakyamuni se transformou numa linda mulher, cujo corpo rapidamente se degenerou, para convencer a cortesã Lótus de que toda bele...

A beleza

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O Buda Sakyamuni se transformou numa linda mulher, cujo corpo rapidamente se degenerou, para convencer a cortesã Lótus de que toda beleza física é transitória.

Por que, apesar de breve, o belo exerce um fascínio tão intenso e poderoso? Por que sua concepção mudou tanto através do tempo? No que consiste a verdadeira beleza?

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Vênus de Willendorf
Museu de História Natural de Viena
Na chamada "Pré-história", a ênfase na fertilidade sugere uma valorização da harmonia e da vitalidade como atributos estéticos, evidenciando as necessidades e valores das comunidades da época. Se tomarmos a representação feminina como parâmetro, podemos observar que seios volumosos e caídos, pernas robustas, barriga arredondada e nádegas voluptuosas eram celebrados como atributos estéticos femininos desejáveis durante o período, como evidenciado por esculturas como a "Vênus de Willendorf".

Com o tempo, este ideal de beleza em relação às mulheres se modificou. Na Grécia antiga, o equilíbrio de proporções era considerado como uma característica imprescindível. Na Idade Média, as mulheres eram retratadas nas pinturas como quase masculinas. Mais tarde, na era barroca, a opulência e a generosidade nas formas indicavam riqueza e prosperidade. Com o início da emancipação feminina, no início do século vinte, as mulheres passaram a buscar um corpo delgado e elegante, numa nova alteração no parâmetro de beleza.

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Marlon Brandon Virgil Apger
Num nível instintivo, as pessoas identificam a beleza com força, vigor e capacidade reprodutiva, o que, segundo um estudo realizado pela Universidade de Valencia, não é algo tão distante da verdade. A investigação, publicada na revista Evolucionary Biology, revelou que homens considerados atraentes apresentam uma melhor qualidade seminal.

Na sociedade de consumo, o raro e o fugaz são artigos preciosos, o que intensifica o valor da beleza, que é vista como um recurso escasso e desejável.

Xenófanes, o filósofo pré-socrático, abordou o problema do belo em seus fragmentos, criticando as concepções antropomorfizadas em relação aos deuses, e destacando a beleza presente na ordem e na simplicidade na natureza.

No diálogo "Hípias Menor", de autoria de Platão, Sócrates se envolve numa discussão com o sofista Hípias sobre a natureza da beleza. O filósofo ateniense começa expressando o seu desejo de aprender com Hípias sobre a beleza.
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Hípias e Sócrates CC0
O sofista, então, oferece várias definições, vinculando a beleza à justiça, à moderação e, até mesmo, à aparência feminina. No entanto, Sócrates, conhecido por sua abordagem rigorosa, examina cada definição minuciosamente, expondo suas contradições e ambiguidades. Hípias tentou ajustar suas definições, em resposta aos desafios de Sócrates, mas o filósofo continuou a questionar e refutar, destacando a complexidade inerente à questão, num diálogo que revela a dificuldade em encontrar uma única e abrangente definição para a beleza, pois diferentes exemplos e casos apresentam desafios únicos.

Platão também abordou o tema da beleza em "O Banquete", onde vários personagens, incluindo Sócrates, reúnem-se para discutir o amor e a natureza da beleza. Cada um apresenta sua perspectiva sobre o amor e sobre como ele se relaciona com a beleza.

A personagem Diotima discute a ascensão através do amor em direção à beleza absoluta e transcendente, num diálogo que explora concepções mais aprofundadas e abrangentes sobre a beleza e o amor, em comparação ao "Hípias Menor".

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Diotima Józef Simmler
Aristóteles explorou o conceito de beleza em relação à ética e à moral, discutindo a ideia de uma beleza harmônica e equilibrada, associando-a à virtude e à excelência moral. Na "Poética", o filósofo estagirita aborda a beleza na arte, analisando elementos como harmonia, complexidade e ordem.

Plotino, em sua obra "Enéadas", explorou a beleza como um reflexo do divino e como algo que eleva a alma.

Kant, em sua "Crítica da Faculdade do Juízo", introduziu o conceito de "juízo estético", afirmando que, mesmo que a beleza seja subjetiva, há um senso comum compartilhado que pode ser explorado por meio desse tipo de julgamento.

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Friedrich SchillerJos. Koehler
Nietzsche, abordou a relação entre a arte e beleza, criticando as noções convencionais de beleza, e defendendo a importância da criatividade individual e da expressão artística.

Friedrich Schiller, em sua obra "Cartas sobre a educação estética do homem", abordou a estreita relação entre a apreciação da beleza e o desenvolvimento moral e ético do indivíduo, dizendo que a contemplação da belo, seja na arte, na natureza ou nas experiências estéticas, desempenha um papel fundamental na formação de um caráter ético e na busca da harmonia interior. Ele também destaca a necessidade de equilibrar as faculdades sensíveis e racionais do ser humano, defendendo que a beleza serve como um meio de integração dessas faculdades.

Segundo Schiller, a beleza não é meramente uma experiência sensorial; ela transcende para o domínio moral. A capacidade de apreciar o belo está intrinsecamente ligada à liberdade do espírito humano. Através da contemplação estética, Schiller acredita que as pessoas podem transcender as limitações mundanas e alcançar um estado de liberdade interior.

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Platão e Aristóteles
Raphael
Schiller também sublinhou a importância da educação estética na formação de indivíduos éticos. Ele propõe que a exposição constante à beleza, seja por meio da arte, música ou outras manifestações estéticas, pode moldar um caráter mais elevado e moral. Essa educação estética, segundo Schiller, não apenas proporciona prazer sensorial, mas também nutre a sensibilidade moral e a capacidade de julgamento ético.

Ao abordar a relação entre beleza e liberdade, o autor alemão delineou uma visão otimista da natureza humana, sugerindo que a reflexão sobre a beleza é intrinsecamente ligada à busca pela liberdade e à construção de uma sociedade mais ética e harmoniosa.

Por sua vez, Merleau-Ponty, em sua "Fenomenologia da percepção", explora a experiência estética e a percepção sensorial, defendendo que a beleza está ligada à experiência corporal e à interação com o mundo.

O poeta inglês Keats expressou a ideia de beleza como uma busca constante na vida e na arte. Em seus trabalhos, como "Ode a uma urna grega", ele explora a imortalidade da beleza artística, destacando a capacidade da arte de transcender o tempo.

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Kahlil Gibran CC0
Gibran Kahlil Gibran aborda a beleza em seu célebre "O Profeta", explorando a sua presença nas diferentes facetas da vida, e enfatizando que ela não está apenas no aspecto exterior, e que pode ser encontrada, sobretudo, nas profundezas da alma e nas experiências cotidianas. Ele instiga os leitores a olharem além das aparências superficiais, enfatizando que o belo reside na integridade, na generosidade e na compaixão. No livro, Almustafá, o profeta, discorre sobre como a beleza está entrelaçada com a vida e como ela se expressa em diversas formas, desde a encontrada da natureza até aquela presente nas relações humanas.

Como Sócrates e Platão chamaram atenção, a verdadeira beleza tem uma vinculação indissociável com a conduta, com o bem. Está diretamente associada à harmonia interior e à integridade. Nas palavras de uma mulher bonita, a atriz Audrey Hepburn: "a verdadeira beleza transcende a superficialidade e reside na alma."

Com as devidas escusas aos céticos, amargurados, pessimistas e materialistas, a beleza real não se trata de mera aparência, mas de uma expressão transcendente. A pureza de intenções, a capacidade de se colocar na pele do outro, a bondade e outras virtudes, são os elementos que contribuem para a verdadeira formosura.

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Jesus Cristo
O que é belo aos olhos de Deus? A compaixão, o amor ao próximo, as atitudes altruístas, a gentileza, o perdão, a humildade, a busca pela justiça, a solidariedade, a paciência e a tolerância.

Na realidade, a beleza está intrinsecamente ligada às virtudes morais e ao serviço desinteressado aos outros. O melhor modo, portanto, de alcançá-la, não é recorrendo a procedimentos estéticos, mas sim incorporando qualidades e se dedicando ao próprio desenvolvimento interior. Cultivar as virtudes e aprimorar o caráter são os meios mais favoráveis para se obter uma beleza profunda e duradoura.

O belo pode ser encontrado em cada um, para além de quaisquer contornos físicos. Como disse o já citado profeta concebido por Gibran: "Povo de Orfalés, a beleza é a vida quando a vida desvenda o seu rosto sagrado. Mas vós sois a vida e sois o véu. A beleza é a eternidade a se olhar no espelho. Vós mesmos sois a eternidade e o espelho."

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