Uma porta, um pedaço de calçada, um batente de entrada, o meio de uma rua com muitos fios de histórias com início, meio e fim, lugares onde mundos se cruzam. Há placas, seja nas esquinas cruzadas, fachadas armadas, monumentos silenciosos com indicações e versões e olhares pelos centros seculares. Caminhar de antes e talvez de futuros. Por ali tudo se transforma em olhos, pelas frestas de portas, nas janelas lacradas por tijolos recentes. E, ainda assim, o mundo se abre em paredes antigas, reavivando camadas de tintas, ressuscitando cenas vividas outrora.
Sim, nascer e viver por tais cantos revela o direito e de se sentir parte, credencia a pertencer. Porém, para captar a essência se faz necessário entender olhares, escutar pedras, enxergar o andar dos antepassados, os passos até dos invasores. Por ali, em ruas de nomes trocados pelas novas ordens que obedecem também quem manda, mas ao mesmo tempo o desejo do tempo.
Pedras, cal, areia, madeira... elas ganham formas... Casario, igrejas, calçadas, estradas e fortins são trincheiras que não protegem o homem do tempo. Em algum momento ele será arrancado, trocado por outros, enquanto o temporal avança e sempre vence e volta a lançar desejos. Por vezes, as paredes se sustentam para contar a história.
Perdidos, os homens voltam e observam a capacidade de se construir e a incapacidade de sobreviver ao tempo. Pedras e olhos contemplam, mediante a passagem de muitos sóis, o varrer de tantas chuvas, as mudanças de diversas luas, o nascer para morrer de tantos dias e pessoas.
No lugar histórico, a aparente inalterabilidade é só disfarce para os efeitos das eras e das ervas. E ainda assim é bela sob o efeito dos raios ou no véu das horas mortas. As ruas antigas que habitam tantas vidas dizem rosários que desbotam a cada nova década velha, histórias e ao mesmo tempo gravam narrativas por todos os cantos, que tiveram famílias, que receberam festas, que encontraram colegiais, que enamoraram platonicamente flores.
Pólvora, mosteiro, colégio, casas, catedral e até fonte em ladeiras e retas, um rio e sua curva em procissão de água que guardam cortejos religiosos e batalhas, comércios e comandos, a essência coletada ao longo dos anos. Emoldurado pelas colunas de algum endereço solto, digam que resta sentar à porta sobre pedras e sob o olhar para observar o caminhar diário das sombras e criar novas histórias pelo histórico centro da velha Parahyba.