A ESCRITA É UMA LIGA DE SANIDADE Muitos diriam para não fazer esses malabarismos de letras sem sentido Diriam que a set...

Ser o vento desperdiçando a força nas folhas mortas

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A ESCRITA É UMA LIGA DE SANIDADE
Muitos diriam para não fazer esses malabarismos de letras sem sentido Diriam que a seta é a cura para a obtusa tortuosidade do nômade Mas buscar o visgo na ressurreição diária faz lampejar os olhos O Eu triturado renasce, não sóbrio, pois a vida não permite Talvez embriagado por uma certa beleza que consiste na insistência De perfilar olhares tristes e distribuir sementes.
DO CASTO RETIRO DE UM POETA
Aos que enchem de óleo as trincheiras para reacendê-las Lembrem-se dos ossos de aluvião, das marcas d’água da memória; passos sem rumo de seus ancestrais, da noite subindo ao céu e os tons das cinzas tingindo a história com o desassossego humano.
A SALVAÇÃO NA PALAVRA
"Porque minha voz mais potente e grave sou eu mudo" (Caê Guimarães)
O lado obscuro me enerva, me oprime, mas enfim resgata o que me é próprio, esta espera, seja da treva ou desta amada tensão que provoca a guinada, o transbordamento, a palavra ̶ verdade acessória ̶, o nada celebrado na boca muda. A indiferença recorta o ar; de vermelho jaz a ave abatida; a cólera: a cilada do lar. Erguer a voz, não é saída, não há o ouvido, sim o esgar. Resta a palavra, crua, mesmo assim, corroída. Resta o silêncio do verso sagrado. O poema espalmado em folha cobre um certo tempo, um espaço na linha das mãos.
PACÍFICO
Ser o vento desperdiçando a força nas folhas mortas (Um passo, ou outra maneira de deslizar na existência) E, ao saber o nome das pedras atiradas, demovê-las da urgência de sangue.
MÁSCARA
Palavra, sombra de mangas longas, infinitas, sob as fendas das máscaras que já foram uma farsa e agora são um bunker contra a asfixia do desespero.

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