A vida não é fácil mas se oferece a mim sedutora quando abro as janelas do 16º andar sobre a cidade espetada em prédios, ninada em bu...

Sampa que amo, feliz aniversário!

sao paulo sampa metropole
A vida não é fácil mas se oferece a mim sedutora quando abro as janelas do 16º andar sobre a cidade espetada em prédios, ninada em buzinas, freadas, luminosos hipnóticos.

São Paulo uma cidade tensa que avança pela corrente sanguínea. A trilha de carros, riscos de faróis no asfalto negro molhado. A cidade raspa pela pele. A proximidade com as pessoas reais que se locomovem enfrentando desafios de dar conta, dar conta, dar conta.

sao paulo sampa metropole
Toni Ferreira
Existe cansaço nos afazeres das jornadas longas, existe ordem neste caos.

Abre o sinal. Verde, o ritual da vida. Assim se constrói a força ágil, tresloucada de Sampa, a cidade que me mimetiza.

Sobretudo cinza, botas longas, cachecol, super bag, óculos escuros, negros mesmo, autêntico Ralph Lauren.

Amo esta cidade cheia de penduricalhos pelas ruas, camelôs de brilho fugaz, pirataria e frutas. Tem yakisoba na esquina. Pessoas encapsuladas dentro dos prédios. Artistas criando com massinha de modelar a história, a escrita, a tinta, a folga, a ação, a superação, a música. Todos fazem alguma coisa num filme que se passa dentro de um filme imaginário, hermético na cabeça de cada um.

Resolver os problemas da mega cidade, esta malha forte e intensa que se desdobra em infinitos possíveis, impossíveis carros.

sao paulo sampa metropole
@Cobli
Todos personagens transformistas jogados na temporalidade dos sinais que abrem e fecham. A cidade promete ganhos, clama pregões em sotaques emblemáticos de lugares distantes que se tocam na troca de dinheiro que passam de mão em mão na relação custo/velocidade/energia/capacidade.

O pecado da cobiça nas sedutoras vitrinas de tudo que o desejo quiser buscar. São Paulo junta tudo, todos, neuroses, amores, o que se oferece a seus seguidores enlatados neste mundo, as dores.

Componente do elenco acrobático dentro do show me construo de outra maneira, ganho tendências, linguagem, impulso.

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Ronê Ferreira
Peço por mim de outro jeito, oficiando o culto aos filmes, mergulhada nos signos artísticos das galerias, das exposições. A assiduidade com que visito o Museu da Língua Portuguesa. O passeio verde pelo Parque do Ibirapuera. O nariz afundado nos livros das quase extintas livrarias .

Todo o tempo é muito pouco neste estar livre pelas ruas e metrôs .

O Bar do Genoíno, a familiar Vila Mariana, o cardápio de carne e carboidratos, os doces e cafés das padarias templárias-a Galeria dos Pães, a Doce Encanto da Rua Topázio, a Bela Paulista.

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Guilherme Stecanella
A cada canto a cidade metálica no fim do mapa, dentro do mapa. A cada ponto intenso existe arte.

E as feiras? - os pastéis. O ritmo martelado da poesia, o encanto formal do tudo que vale tudo. A luta aflitiva e séria, a façanha de ser feliz estourando toda tradução da lógica.

A matéria dispersa, fumaça. avenidas travadas, óxidos esparsos por trás dos quais se esconde o espanto. O encanto provisório, o refazer-se que ronda, o declínio da realidade.

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Athena
Incorporo a cidade que abana cash, luxo. Mergulho no pote de ouro com olhos gulosos despertos para viver o clássico e o inusitado, o simples e o sofisticado na vibração que emana de todos os estilos em linguagem igual e caótica em dias de chuva. Reinado do limpador de para brisa, sombrinha e guarda chuva.

Tudo é superfície alucinante.

Tudo é Brasil de todos os dialetos, a força que converge de Norte a Sul, a fatia larga do Nordeste.

Azul da janela aberta em cinza molhado. Respiro do chumbo fresco e frio que entra pelos vãos da vida. Sensações de dia e noite. O kibe e a esfiha do Elias e da Jaqueline ao lado do metrô Ana rosa. A fumegante coxinha e o guaraná diet gelado. O paraíso da gula, a intenção de movimento percorrendo com os olhos os espaços corridos e velozes dos bairros que crescem em cada esquina, beco, avenida, viaduto e embaixo dele.

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@eliasesfiha
Marginais que desembocam na liberdade das terras do interior. Rios cansados de promessas vãs e homens inúteis na hora de recompor o quadro vital e pitoresco.

O frescor da civilização que cresce jovem. O aroma do mundo na Oscar Freire. A Gabriel e os requintes para as casas em espetáculo de modernidade.

O cheiro de gente apressada, enervada pela rua Direita, Viaduto do Chá, Praça João Mendes, Anhangabaú. A insanidade consumista delirante do país inteiro e dos vizinhos latinos que desemboca na rua 25 de Março, na ladeira Porto Geral. A dinâmica da vida pós humana refletida em dinheiro.

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Muhaimin Choudhury
As ilusões dos espectadores a passos lentos olhando vitrines nas galerias e shoppings centers, nos mega super mercados que entusiasmam senhas tecladas com agilidade de pianistas.

- Quem sou eu afinal nesta multidão de cores, na mistura de figuras, nas aparições repentinas a cada esquina de personagens novos, reais e flutuantes ? O animado ser humano encapsulado em carros de modelos decantados em anúncios de lirismo extremo convincentes de que nos transformam em seres melhores, vitoriosos, em glória.

Torno-me figura e fundo, a voz sem interlocutor, a freada súbita, a sirene da ambulância, a revista colorida da esquina, o preto e branco distinto, o kajal e o batom, a mala de rodinhas para carregar de tudo a vida.

A cidade hiperativa de várias estações em um mesmo dia, do muito a fazer, do impossível parar. Todas as contradições, o desejo de emagrecer e morder o alvo errado das carnes suculentas das gastronômicas churrascarias.

sao paulo sampa metropole
seLusava
Passada enérgica, fibra de aço, dança ligeira de pares que não se tocam.

Passam carcaças vazias, homens de mente ocupada, mulheres de natureza fria, vendedores atrevidos.

Povo animado pelo dinheiro nos bancos.

Homens, mulheres e crianças cobertos em sonhos sob as marquises, em show de malabares nos semáforos com as mãos estendidas necessitados dos alimentos da ilusão. É o menino que pede comida na esquina. Famílias que moram nas casas de papelão e lata sob o viaduto na cena dos artísticos grafites paulistanos. Os invisíveis “ os sujos” do pedaço que vestem trapos com as cabeças em nóia.

Em clima de happy hour, garotas que em minutos servem-se nuas em refúgios de luxo ou lixo.

A noite e os pubs, centro de fumaça do mundo rápido, pesado, estranho e solitário. As madrugadas agudas e quebradas em via crucis etílica.

O ingovernável se auto mantém na estrutura cosmopolita de sua desvairada viagem.

A grandeza de São Paulo nunca me abandona.

Bagagem.

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