"Agora estamos nos transformando naquilo em que nunca quisemos nos transformar, ou seja, em velhos..."
, assim começa o texto A velhice, de Natalia Ginzburg, publicado no diário italiano La Stampa em dezembro de 1968 e republicado no livro Não me pergunte jamais, pela @editora.ayine, em 2022 [com tradução de Juia Scamparini @juliascamp].
gosto muito da sua escrita, apesar do peso e da melancolia que carrega [mas não poderia ser diferente já que sua história de vida não foi nada fácil. nascida na Italia em uma familia judia, viveu de perto a guerra e a luta antifascista].
já li Todos os nossos ontens e As pequenas virtudes, mas esse texto em especial mexeu bastante comigo. talvez porque tenho pensado muito no processo de envelhecimento. talvez por que ela falou de um olhar para a velhice que em nada parece com o meu. talvez porque ainda me vejo como uma jovem descobrindo e experimentando o mundo. talvez porque tenha sido uma criança e uma adolescente bem convencionais e estou num processo crescente de desobediência. talvez porque, mesmo vivendo boa relação com a maturidade, minhas mãos não me deixam esquecer que a velhice é tão próxima e tão real e não são poucas as vezes que tento escondê-las ou uso algum filtro quando publico uma fotografia. talvez porque nesse exato momento de leitura/café pós almoço me vi como uma senhorinha.
talvez por isso e por tantos outros motivos, os grilos começaram a gritar na minha cabeça: sim!!! estamos envelhecendo!!! que "nossa passagem de animal à pedra" seja leve e divertida e não trabalhosa e cansativa, como a de Natalia.