Carlos Dias Fernandes é mais comentado do que lido. Embora eu tenha tomado conhecimento da sua existência quando tinha 15 anos, assim que cheguei à Paraíba, somente agora parei para ler uma obra sua, que descobri por acaso, pesquisando sobre ele na internet.
Publicado em 1922 pela Editora Monteiro Lobato, o livro Os Cangaceiros pode ser baixada neste link. Não consigo compreender o porquê desta obra do pré-modernismo não ter tido uma repercussão maior. Não é trabalhada e divulgada nem mesmo na Paraíba.
O autor descreve com detalhes a natureza e o estilo de vida sertanejos. É uma obra rica em crítica aos costumes e à violência institucional. Nesse contexto, Os Cangaceiros questiona a moral sexual burguesa sobre a sexualidade feminina, fazendo jus ao reconhecimento de Carlos Dias Fernandes como defensor dos direitos das mulheres. O grande paraibano de Mamanguape, inclusive, se manifestava favor do voto feminino.
Os Cangaceiros narra o destino de Minervino, um rapaz ingênuo e de boa índole que se transforma em justiceiro fora da lei, após uma sucessão de tragédias em sua vida e a revolta contra os abusos das autoridades de seu tempo.
Na verdade, a obra tem como mérito fazer uma crítica ao aparelho de Justiça e da força policial, aos rígidos padrões sexuais e à falta de compensação aos que seguem rigorosamente uma vida digna e irrepreensível, mas não estão livres das arbitrariedades do Estado.
A história se passa na Paraíba e é fácil o leitor paraibano se identificar com os costumes e hábitos sertanejos, embora o enredo se passe alguns anos após a Proclamação da República.