Cheguei à Serra da Raiz e Duas Estradas com atraso de muitas décadas, recompensado em percurso pelo caminho que os livros de Horácio de Almeida, Maximiano Lopes Machado e Irineu Pinto apontaram.
Um caminho que leva aos primórdios do século dezessete, mundo desconhecido, habitado por aventureiros à cata de riquezas e da mão de obra indígena.
Quando chegamos ao cume da serra, percebemos quanto é bela a paisagem aos nossos pés. Ao largo, as pequenas elevações cobertas de arbustos nos atraem. A vontade é de ficar ali. No silêncio recolher a brisa noturna, refrigero ao dia abrasador.
Ao sopé da serra, Duas Estradas recolhe a brisa das campinas, de onde miramos em busca da visão panorâmica. Saindo de Duas Estradas até Serra da Raiz, em percurso de três km, somos recompensados pela acolhedora paisagem.
O olhar ganha espaço em direção ao mar e se espalha pela extensão de norte a sul da Borborema. Os colonizadores cresceram os olhos para esse lugar. Apoderaram-se da riqueza das várzeas e encostas para produzirem o melhor algodão, a boa cana e o mais saboroso café.
Sempre estive em contato com essa região de que os livros falam, a história contada em miúdo sem o calor do dia e a brisa suave da noite, a nos acolher. A brisa que nos envolve no balanço da cadeira na boca da noite, enquanto olhamos as palmeiras e folhas de imbaúba acenando à distância sob o clarão da lua, esparramado pelos declives e lajedos onde estão os milenares registros rupestres.
Precisava estar nesse lugar para tocar naquilo que os livros de história não conseguiram transmitir.
Caminho pelas antigas paisagens da Serra da Copaoba, lembrando do tempo quando eram escassos passos de algum homem branco, ao tempo dos colonizadores que buscavam as riquezas do lugar, revelados por historiadores. Procuro nas brenhas resquícios da copaoba, árvore que dava óleo balsâmico com propriedades terapêuticas para os indígenas e caboclos. Não a encontro senão nas páginas dos compêndios.
Nesse lugar, de muitos encantos, o silêncio reúne a harmonia da natureza para pôr fim às tormentas da alma.
Digo sem exagero: o lugar é uma oferenda lírica somente comparada a Serraria, a terra onde nasci. Tem riachos, veredas e encostas guardando mistérios e poesia.
Nesse lugar se encontra o alimento para a alma, a brisa que afasta a fadiga. Bom para a meditação.
Serei um giróvago perambulando por essas paisagens a procurar caminhos enquanto as pernas permitirem. Terei as paisagens que ficaram imperecíveis, porque o lugar é místico e poético.
Em tempos passados, figuras esponsais do saber teológico e das artes se refugiavam nesse recanto para aquietar o espírito. Dom Adauto de Miranda Henrique, o primeiro bispo da Paraíba, recolhia-se aí no verão para desfrutar da aragem da serra.
Pinturas rupestres, descobertas na região por volta de 1548, ainda esperam pelos que apreciam os mistérios da natureza. Os primeiros flamboyants paraibanos foram encontrados ali, enfeitando a paisagem com suas flores multicoloridas. Receberam este nome dado pelos franceses. Nesse encontro de agora, tive sonhos e emoções que os livros não conseguiram apresentar.
Tanta história este lugar revela! Pelo século dezesseis, os índios potiguaras, unidos aos violentos tabajaras, que habitavam o sul paraibano, enfrentaram os franceses que contrabandeavam o “pau de tinta”, abundante na região. Ação que teve o apoio do capitão-mor da Capitania da Paraíba, Francisco Coelho de Carvalho, para afugentar os invasores.
Serra da Raiz, Duas Estradas e outras cidades que integram a Serra da Copaoba, são símbolos da bela paisagem da Paraíba ao tempo da colonização, quando homens vindos de longe buscavam as terras dos sertões bravios e inabitados. Se franceses e holandeses buscaram riquezas, também contribuíram para que a civilização chegasse onde somente o índio habitava.
Afugentados os invasores, chegaram os padres jesuítas para apaziguar os ânimos dos nativos. O maioral cacique potiguara Pau-Seco, senhor da Copaoba, e seu irmão Zorobabé, afamado por sua brabeza, migraram rumo ao Rio Grande do Norte para as conversações de paz, assinado o termo expressando a pacificação em junho de 1599.
Tempos depois, enquanto o índio Zorobabé combatia os índios aimorés, na Bahia, seu irmão foi assassinado, segundo o exposto por historiadores.