A mitologia grega, berço de grandes narrativas, destaca as moiras, ou parcas, as irmãs fiandeiras do destino. Tecendo o fio da vida, Láquesis, Cloto e Átropos personificam a inevitabilidade das circunstâncias.
No mesmo compasso trágico, Sófocles relata o drama de Édipo, onde profecia e destino se entrelaçam, forjando um desfecho que transcende a vontade humana.
Sob uma perspectiva desatenta, o destino parece se apresentar como uma misteriosa dança entre o livre-arbítrio e o determinismo, com uma miríade infinita de possibilidades entrelaçadas, acidentais e fortuitas.
As religiões orientais, como o Hinduísmo e o Budismo, exploram a ideia do karma. Segundo essas tradições, o ciclo de renascimento, permeado pela busca da iluminação, tece uma narrativa de redenção e evolução espiritual.
Lao-Tsé, fundador do taoísmo, enfatiza a ideia de seguir o fluxo natural da existência. O destino, nesse contexto, está conectado à harmonia com o Tao, cabendo ao ser humano aceitar e se alinhar com o curso natural das coisas.
No Islã há a ideia de Qadar, que se refere à predestinação divina. Este conceito reconhece que Allah tem conhecimento prévio e controle sobre todas as coisas.
Qadar envolve quatro componentes principais: Al-Ilm, segundo o qual Allah possui conhecimento completo e abrangente de todas as coisas, passadas, presentes e futuras; Al-Kitabah, que assevera que as ações de todas as criaturas estão escritas em uma Preservada Tábua, como mencionado no Alcorão; Al-Mashiah, que esclarece que Allah tem o poder de executar Sua vontade em conformidade com Seu conhecimento; e Al-Khalq, que ensina que Allah é o Criador de todas as coisas, e tudo ocorre por Sua vontade.
No contexto da cultura árabe também há a palavra "Maktub", que significa "está escrito" ou "está destinado", e que se relaciona diretamente ao conceito de destino ou predestinação. A ideia por trás de "Maktub" é que certos eventos ou destinos estão predeterminados e são inevitáveis.
O termo "Maktub" expressa a crença de que, embora Allah tenha conhecimento do que acontecerá, permite que os seres humanos ajam de conformidade com o seu livre arbítrio.
A visão espírita sobre o destino, conforme expressa na obra de Léon Denis, destaca-se pela crença na lei de causa e efeito, conhecida como Lei de Ação e Reação. Segundo o Espiritismo, as experiências vividas nesta vida são resultados de ações passadas, sendo o destino uma consequência das escolhas e comportamentos ao longo das diversas existências.
Léon Denis enfatiza a ideia de evolução espiritual contínua, onde o destino não é algo predefinido, mas sim moldado pelas decisões e atitudes de cada indivíduo. A reencarnação é um elemento central nesse entendimento, oferecendo oportunidades de aprendizado e aprimoramento moral ao longo das sucessivas experiências.
Os filósofos estoicos viam o destino como uma expressão da ordem cósmica regida pelo "Logos" divino. Acreditavam no determinismo cósmico, promoviam a aceitação serena do destino e enfatizavam a importância da atitude interna diante das circunstâncias. Para eles, a verdadeira liberdade residia na capacidade de controlar as próprias respostas aos acontecimentos e de viver em conformidade com a natureza racional do universo.
Nietzsche, em sua obra "Assim Falou Zaratustra", defendeu a ideia do "eterno retorno", sugerindo que a vida e o destino são cíclicos, e que enfrentaríamos as mesmas situações repetidamente.
Para Sartre, o destino é uma construção individual, no qual os seres humanos estão "condenados à liberdade", numa espécie de visão trágica existencialista, segundo a qual somos responsáveis por nossas escolhas e, portanto, construímos inevitavelmente a nossa própria sentença.
Aldous Huxley acusava William Ernest Henley de nutrir uma fé ingênua na capacidade do indivíduo de superar qualquer situação. Ele criticou, particularmente, estes famosos versos do poema "Invictus":
"Eu sou o mestre do meu destino,
Eu sou o capitão da minha alma."
Um outro poeta inglês, Rudyard Kipling compartilhava do mesmo entusiasmo festivo do seu colega Henley, aqui refletido nesse trecho livremente traduzidos por mim: "ao se encontrar com o triunfo e com o desastre, trate esses dois impostores da mesma forma..."
Huxley preferia conferir a si mesmo o benefício da dúvida em relação a tais declarações, ao considerar que o ser humano, de fato, não pode alterar todo o cenário de sua existência, ainda que chegue ao ponto de conseguir modificá-lo substancialmente.
Ser feliz, com o que se tem e com o que se é, não é conformismo, quando consiste numa estratégia de fé e de paciência para se reinventar e providenciar um porvir menos adverso.
Nesse ponto, é inevitável citar a questão formulada por Hamlet, na mais famosa peça shakespeareana:
"Ser ou não ser, eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma as pedradas e flechadas do destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias e combatê-lo?"
Evidentemente, trata-se de uma pergunta retórica, pois o próprio Hamlet escolheu enfrentar o seu oceano de desventuras, tentando superá-lo. Preferiu lutar do que se entregar, sugerindo, assim, que todos façamos o mesmo.
A força da ação sobre o destino está no poder de escolher e de mudar, atuando do melhor modo possível, dentro do cenário no qual estamos inseridos.
De nada adianta o lamento e a comparação com a situação dos outros, como bem nos lembra Fernando Pessoa:
"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias."
Em contraste com uma visão fatalista, Jesus nos ensina que a esperança sempre vence.
Um resgate do verdadeiro sentido do Mito grego demonstra que ele via o destino como um ciclo que funciona como uma espiral, numa perspectiva que transcende o fatalismo dominante na religião pública grega. A mensagem de esperança trazida por Jesus enfatiza a redenção, a misericórdia divina e a promessa de vida eterna. A mensagem cristã oferece a esperança de superação da dor através da fé, do amor e da Graça.
A experiência direta nos comunica que há sim elementos de predeterminacão na trajetória humana, mas não a ponto de inviabilizar o livre arbítrio. As condições físicas e os contornos sociais ou geográficos não são condenações definitivas. Ninguém é um títere inerte do destino, um fantoche das circunstâncias, que pode pôr a culpa em tudo o que rodeia a sua existência, como forma de fugir de sua própria responsabilidade.
Por mais dramática e artística que seja a visão grega, eu prefiro a de Jesus.
A experiência direta nos comunica que há sim elementos de predeterminação na trajetória humana, mas não a ponto de inviabilizar o livre arbítrio. As condições físicas e os contornos sociais ou geográficos não são condenações definitivas. Há sempre esperança!
Ninguém é um títere inerte do destino, um fantoche das circunstâncias, que pode pôr a culpa em tudo o que rodeia a sua existência, como forma de fugir de sua própria responsabilidade.
Toda ação tem sua reação e consequência. Todo ato produz um resultado. No fim das contas, cada um sempre responderá pelas consequências das suas próprias escolhas, por mais atenuadas ou agravadas que sejam pela situação de cada um.
O passado já está escrito; o futuro, não. O presente de agora, é o futuro que antes foi preparado. O futuro do presente, muito além de um tempo verbal, será, igualmente, o produto do que fazemos hoje.
Individualmente, o destino é moldado pelas escolhas e ações de cada um, sendo esse um fator determinante na construção do próprio caminho. Mesmo diante das circunstâncias objetivas, sejam elas complicadas ou favoráveis, a pessoa continua a possuir a liberdade de escolher como enfrentar moralmente os desafios que se apresentam, num itinerário onde adversidades e experiências difíceis são oportunidades de crescimento, que contribuem para o aprimoramento do caráter.
Se o hoje é resultado do ontem, o amanhã é uma página ainda em aberto, na qual uma nota diferente pode ser escrita.
A prática do bem e a ajuda aos outros são ações capazes de alterar o curso de qualquer trajetória estéril.
Deus nos dá a oportunidade de melhorar o nosso próprio futuro, de escolher um porvir mais venturoso, assim como devemos confiar que Ele prepara, para todos, um destino melhor.
Coletivamente, por mais maliciosas, ardilosas, astutas e implacáveis que sejam as estratégias daqueles que tecem planos de dominação global, eles não podem tudo. A segunda epístola do apóstolo Timóteo diz, no seu capítulo 3, versículo 13:
"todavia, os perversos e impostores andarão de mal a pior, enganando e sendo enganados.", no mesmo espírito de Salmos 21:1, que assinala: "(...) maquinaram um ardil, mas não prevalecerão!", ao também concordar com Salmos 103:19: "o Senhor Estabeleceu o Seu trono nos céus, e como Rei Domina sobre tudo o que existe."
O destino da humanidade não está nas mãos de grupos de poder, por piores e mais demoníacos, como bem nos lembra Dante, no Canto XXVII, da Divina Comédia:"Pensas que não há quem na Terra governe,
Lá onde a família humana se extravia.
Mas antes que janeiro inteiro se torne inverno
Pelos desprezados centésimos de um dia,
Ressoarão tão forte estes círculos supernos
Que a Fortuna ou Sorte, que tanto se anseia,
Tornando sua popa à proa singrará,
A nau correrá justa e proba como devia
e o bom, o verdadeiro fruto, depois da flor virá!"
Seja em relação a nós ou ao mundo, a melhor atitude diante do destino é agir do melhor modo que se pode, e depositar toda a fé e confiança no Criador, conforme dito por Seu Enviado em João 14:1: "Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim."
Ao confiar nesse conselho, poderemos descansar pois saberemos o caminho para onde iremos.
Não é fácil para o verme ter fé na luz, enquanto ainda está no subterrâneo. Urge cavar para cima. Por isso a necessidade da bússola: o Mestre Jesus.