▪ Mabruk : palavra de origem árabe que significa “Felicidade”, “Próspero”, “Que comece abençoado”. Expressa o caráter de bênção daquel...

Mabruk, Mazal!

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Mabruk: palavra de origem árabe que significa “Felicidade”, “Próspero”, “Que comece abençoado”. Expressa o caráter de bênção daquele dom pelo qual felicitamos alguém.
Mazal: termo usado no misticismo judaico para descrever a raiz da alma.

Com a chegada de um novo ano, é quase regra comum reflectir-se sobre os factos gerais mundiais mais significativos.

Num olhar panorâmico, a memória do ano de 2023 e o início de 2024 é um eco plural, fracturado, atravessado por hostilidades de todo o tipo, no entre-si de ambiguidades, tensões e antagonismos. As guerras, as assimetrias e a
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A. Akacha
ausências de reciprocidade que estão a marcar as relações entre povos, religiões, culturas e indivíduos, longe de merecer celebração, são denunciadas como momentos lastimáveis da nossa história.

Acentuaram-se epifenómenos intermináveis no tempo e desastrosos nas consequências, multiplicaram-se conflitos regionais, a unipolaridade, os desdobramentos e rupturas do equilíbrio na área do poder político e militar, os epistemicídios, a exploração económica, o receio do incerto, a degradação ecológica, a desintegração da família e os fundamentalismos de toda a espécie.

O homem novo não apareceu. A “Utopia” de Thomas More não se concretizou e a “Cidade Ideal” sonhada pelo trácio Spartacus não foi criada. Nenhum prosélito messias intentou emular Maurya Achoka, rei da Alexandria Arachosia, no seu tempo credor do respeito universal, ao proibir, por édito real, a guerra na área do seu império, por considerar ser esta “um fervor bárbaro, incompatível com a vocação e o destino dos homens”...

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A. Akacha
Persiste o putativo conflito de civilizações e o diálogo ecuménico saiu algumas vezes frustrado. O Médio Oriente permanece sob o espectro do tempo da morte e do mal, “com um dedo no gatilho e outro no controlo remoto” – uma vicissitude que, em certa medida, seria o que Epicuro chamava “o acidente dos acidentes”.

Porém, há ainda sinais positivos que nos fazem acreditar que a “a tarefa de tornar possível o impossível”, como nos lembrou um dia a chilena Marta Harnecker “está ao alcance da humanidade”.

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A. Akacha
Dois mil e vinte e quatro abre consigo um parêntese na evolução da história mundial, representando o início de uma intrincada série de eventos que muito provavelmente irão definir o curso da história, durante o século XXI. Ainda não está muito claro o modo como esse parêntese será fechado. Muito há a fazer para que a tolerância e o respeito de todos por todos se instale como atitude e comportamento naturais. A missão será homérica, mas esse será o grande desafio de 2024.

No final da Segunda Guerra Mundial, escrevia o filósofo, escritor e poeta francês Paul Valéry, com abalizado conhecimento “Nós, civilizações, sabemos agora que somos mortais. Tínhamos ouvido falar de mundos inteiros desaparecidos,
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A. Akacha
de impérios que se afundaram com todos os seus homens e máquinas, perdidos na indevassável profundidade dos séculos, com deuses e leis, academias e dicionários. Agora vemos que o abismo da História é suficientemente amplo para que nele caiba a totalidade do mundo. Sentimos que uma civilização tem a mesma fragilidade que a vida”.

Talvez seja chegado o momento de, independentemente da etnia, cultura e religião, deixarmos de persistir em não ver o outro em nós, liquidarmos o diálogo, devendo antes enxergar o mesmo homem, com as suas grandezas e exiguidades, de desistirmos de vestir a outrem a veste esfarrapada a que já nem a nós nos serve, e procurarmos um traje que a todos se adeqúe. Como afirmou Okakura Kakuzo “A verdade só pode ser atingida através da compreensão dos contrários”. Sem dúvida. E esse é o único caminho para a paz.

Outra ilação a recolher deste último ano é também que a história é uma complexa teia de processos marcados pela contingência, em que as inevitabilidades de hoje se poderão transformar nas incógnitas e nas incertezas de amanhã. É, pois, desejável, que a dicotomia entre o bem e o mal, o progresso e a barbárie e todas as imagens grafitadas a preto e branco que arrevesam este mundo complexo e contraditório, possam dar lugar a percepções capazes de apreender um leque mais variado de cores e de tons,
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A. Şenol
que não reduzam todos os problemas a duas posições opostas e incomensuráveis. Não esqueçamos que as vítimas de hoje poderão tornar-se os agressores de amanhã, e vice-versa. A mão que traça as linhas do perigo é a mão do medo e, por isso, o tamanho da fortaleza que o exorciza varia com a percepção da vulnerabilidade.

Será lícito o pressagiado um dia pelo poeta persa Rumi ao lavrar “quando chegou a hora de escrever sobre o Amor, a pena estava quebrada e o papel rasgado”? A verdade é que não estamos ainda em condições de esboçar uma previsão das rupturas que as actuais convulsões poderão originar. É o mundo a tocar o seu próprio céu. Temos de partir do que somos, do que fizemos, sem a ideia abstrusa de enterrar o passado, desconhecendo que o presente nasceu dele. A criação de uma sociedade humanizada a nível planetário depende antes de mais de uma revalorização da teoria que possa fecundar uma práxis nova capaz de mobilizar a consciência e as energias dos povos. É este o fundamento da nossa confiança em que o ano de 2024, que ora se iniciou, significará um avanço qualitativo da Humanidade.

Que assim seja. Paz e Luz. Mabruk. Mazal. Felicidades.


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