Quem diria... Até há pouco tempo comemorávamos o Natal e o Ano Novo, com muita festa, muito barulho, muita comida, muita bebida. Pouco mais virá o “Folia de Rua” e o Carnaval... Decididamente o homem é um animal festivo por excelência. E não falta motivo para festas. Seja para comemorar um nascimento, um casamento, uma formatura, as bodas de prata, de ouro, de diamante. Festa... Ah, quantas festas!
Depois, vem a Semana Santa, e, logo em seguida, será a vez do São João, com sua inconsequente queima de fogueiras, bombas estúpidas e barulhentas. Depois virá a festa da padroeira. E cada uma dessas festas se caracteriza por suas comidas e bebidas. Na Semana Santa, por exemplo — que deveria ser época de jejum — é quando mais se come. E lá vêm os ovos de páscoa, as deliciosas peixadas, já que a carne é hipocritamente proibida. Nos festejos juninos, temos o milho assado, o milho cozinhado, pamonha, canjica. Na festa da padroeira, o cachorro-quente, a maçã caramelada etc.
A festa depende da boca. Sem boca, como fazer a festa? A grande alegria do homem começa na boca, que está sempre ocupada. E quando não há alimento, há a borracha chamada chiclete, que o homem mastiga ou chupa como se fosse comida. Estão aí a chupeta e a goma de mascar. Chupeta para as crianças e chiclete para os adolescentes. E quando não é a borracha, é o fumo. O cigarro é uma espécie de chupeta de papel.
A boca é tudo, numa festa. Se o homem não tivesse boca, ("ô coitado!") não existiria festa. Comete-se uma grande injustiça quando se diz que "o peixe morre pela boca". Mentira! Quem morre pela boca é o homem.
O recém-nascido, mal sai do útero, fica gulosamente procurando o seio materno. É o seu maior prazer. E quem é que não mama ou já mamou neste mundo? Os políticos adoram sugar o leite das tetas do Estado, principalmente os do Congresso Nacional.
Mas voltando à festa, por que o homem a adora? Ora, porque a festa espanta o medo. É uma espécie de anestesia da dor de viver. Com a festa, ele esquece temporariamente seus problemas, esquece a morte e tem a ilusão de que é feliz.
Acontece que tudo passa. As festas também. E haverá coisa mais triste do que um fim de festa? As mesas, as garrafas, os copos e os pratos vazios, as toalhas manchadas, as luzes apagadas, o pessoal se retirando aos poucos, carregando seu cansaço, sua ressaca, seu vazio existencial.
Finalmente a solidão, a terrível e temível solidão interior. O homem cara-a-cara com a sua consciência, de que ele foge como o diabo da cruz e o morcego da luz.
Aí é a vez, então, de dizer como o poeta: "e agora, José?" Sim, e agora?
Agora é sonhar com outra festa, e com mais uma ilusão.