Entre grandes canções e ecos de tragédia
“Eu que escolhi tudo na minha vida, eu também quero escolher minha morte.
Há aqueles que querem morrer num dia chuvoso e outros em pleno dia ensolarado. Há aqueles que querem morrer sozinhos na cama, tranquilos em pleno sono. Eu quero morrer no palco. Em frente dos projectores. Sim, eu quero morrer no palco. O coração aberto a todas as cores. Morrer sem qualquer dor na última apresentação. Quero morrer em cena, cantando até ao fim.”
Há aqueles que querem morrer num dia chuvoso e outros em pleno dia ensolarado. Há aqueles que querem morrer sozinhos na cama, tranquilos em pleno sono. Eu quero morrer no palco. Em frente dos projectores. Sim, eu quero morrer no palco. O coração aberto a todas as cores. Morrer sem qualquer dor na última apresentação. Quero morrer em cena, cantando até ao fim.”
Excerto do tema “Mourir Sur Scène” (“Morrer no Palco”), composta por Michel Jouveaux e Jeff Barnel, em 1983, e gravada por Dalida.
Caso estivesse ainda entre nós, a famosa cantora e atriz egípcio-francesa Dalida completaria hoje o seu 91.º aniversário. A sua obra inscreveu a memória de uma grande diva na história da canção francesa.
Diva com todas as letras, figura de carisma invulgar, juntando a traços únicos uma voz igualmente distintiva, Dalida foi um dos nomes de maior sucesso da canção popular europeia entre finais dos anos 50 e os anos 80. Intensa, a história da sua vida pessoal habitou em várias ocasiões no limiar da tragédia, criando um raro contraste entre os momentos de dor e o tom festivo e efusivo que muitas das suas canções sugeriam. Ganhou prémios, vendeu muitos discos, mas acabou por sucumbir a um episódio de depressão e suicidou-se, em 1987, com apenas 54 anos.
Iolanda Cristina Gigliotti, o seu nome real, ganhou de facto um lugar na história da canção popular. Nascida no Cairo (Egito) em janeiro de 1933, descendente de uma família italiana, aos 19 anos de idade tinha já iniciado uma carreira como manequim e conquistado um título de Miss Egito. Aos 21 anos, Dalida começou a aparecer em alguns filmes no seu país natal, creditada inicialmente apenas como Yolanda. Mais tarde, já descoberta por Bruno Coquatrix que, desde 1954 comandava os destinos artísticos do Olympia, uma das mais célebres e seletas salas de Paris, transferiu-se para França, dando início a uma respeitável carreira musical, fazendo sucesso em toda a Europa e Oriente.
Aclamada pela sua capacidade de reinventar a sua imagem através das décadas, Dalida atravessou diversos estilos durante os anos 50 até à década de 1980 sem nunca perder a sua autoridade de ícone dentro da música francesa. Foi ainda responsável por modernizar o cenário musical em França com as suas atuações coloridas e inovadoras, tornando-se numa referência de estilo para muitos iniciantes. Dalida tornou-se também influente na moda, desde a época em que ostentava a imagem da morena vamp, nos anos 50, até à fase da loira estonteante, nos anos 70, tendo o seu estilo inspirado outras mulheres da época. A sua maquilhagem bem marcada nos olhos e a sua cabeleira loira passaram a ser a sua marca icónica.
Dalida tornou-se a primeira cantora a receber mais de cinco dezenas de discos de ouro e de platina, além de ter sido a primeira intérprete a receber um disco de diamante, em 1981. Estima-se que até aos dias de hoje ela tenha vendido mais de 140 milhões de discos. Conhecedora de várias línguas, cantava em mais de 10 idiomas, tendo gravado canções em francês, italiano, alemão, espanhol, inglês, árabe (egípcio e libanês), japonês, holandês, hebraico e grego.
Apesar do sucesso da sua carreira, Dalida enfrentou vários dramas pessoais e, com o tempo, sentindo-se cada vez mais solitária, caiu numa profunda depressão que culminaria com o seu suicídio, em maio de 1987, aos 54 anos. A sua imagem de glamour, de sofisticação e toda a história de vida que culminou com a sua fatídica morte, ainda hoje incutem a admiração de muitos fãs em todo o mundo que continuam a cultuar a sua imagem de diva trágica.
Homenageamos Dalida, essa cantora e diva intemporal sobre quem Anwar Sadat, presidente do Egito entre 1970 e 1981, se referiu afirmando ser a “figura egípcia mais famosa do mundo depois de Cleópatra”.