Janeiro que chove ano novo. A folhinha trocada na parede e as folhas verdes molhadas na praça. O peso enverga os galhos que se abaixam para conseguir carregar a água. Sai de cena o branco da roupa, o céu veste-se de brancas nuvens. E logo o azul se abre para o abraço do rei Sol pela terra brevemente encharcada e seca as superfícies. Os números vão se trocando em espaços precisos com a sincronização e a efemeridade do tempo. Movem-se relógios, pessoas, bichos e o mundo.
Notícias novas surgem acumulando-se mais uma vez em um recomeço. Janeiro repete-se com suas singularidades. Sempre é assim, logo as batucadas saem, a folia toma conta. E dizem que só depois de fevereiro começa o novo ano, quando a verdade é que o ciclo precisa do festejar. Janeiro esquenta com as estações nordestinas: quentura, mormaço, calor e verão, com exceções de frios em certas regiões e durante certas temporadas que a maioria dos filhos da terra nem conhece.
Segue a mudança de folhinha. Já se foi o primeiro, segue o segundo e encaminha-se o terceiro dia. A vida se rotina e se altera pelos janeiros que chovem dias. Os 31 esticam-se na passagem, feito desfile de escola de samba saudosa da avenida. Tem tempo, mas resiste em passar, enquanto muitos anseiam por fevereiros. Por enquanto, vez por outra, chove em janeiro mesmo que seja para esquentar.
E molha a língua com a água gelada da vida quente, tocam-se os pés com a água corrente solta da trilha viva. Janeiros em gotas das noites quentes onde emergem cajus, mangas e outros sabores. Chove janeiro pelas plantas em veraneio que joga frutos dependurados que pulam sem pára-quedas e rolam pelo chão para alimentar bichos e a própria terra. Tudo típico da estação que atravessa todos os anos jogando cores pelo hemisfério abaixo do Equador, em contraponto a outra metade do todo.
Segue-se o vento veraneio a varrer as folhas pelos canteiros e calçadas, avança janeiro num sopro pelas folhinhas de individuais dias, enquanto o tempo toca cada vida. E trazem novas marcas, novas gotas da temporalidade individual, de mundos únicos em meio à cantoria de pássaros e chiado da nuvem em desaguar. E molha, também, os inanimados tristes prédios decaídos, os alegres meninos numa pelada de bairro, os coloridos guarda-sóis à beira-mar, as vazias ruas em feriado. Janeiro segue do festejo pós-dezembro para a algazarra carnavalesca de fevereiro.
E mais uma vez... janeiro chove com a queda das folhinhas do calendário.