A imagem dos demônios dos cristãos foi desenvolvida a partir da figura dos sátiros, semideuses da Mitologia Grega que viviam como devassos, libertinos de carteirinha. Porém, a Bíblia sagrada costuma apresentá-los como sinônimos de demônios, principalmente pelo corpo parecido com bodes. Não promoviam o mal, mas tinham aparência associada à quem veio para te levar para o inferno.
O escritor Javier Marías conseguiu descrever com poesia uma associação terminal levada ao cabo em seu livro “Assim começa o mal”:
“Não faz muito tempo que aquela história aconteceu, menos do que costuma durar uma vida, e quão pouco é uma vida quando ela já está terminada, e já se pode contá-la em poucas frases, e só ficam na memória, cinzas que se soltam à menor sacudida e voam à menor lufada, que, no entanto, hoje ela seria impossível”.
Com os olhos sem maldade, a trajetória humana torna-se poética ao cruzar por uma generosa mente.
O mais famoso dos sátiros foi Mársias, criatura meio humana, com chifres curtos, orelhas pontiagudas, patas de bode e mãos em forma de taça ou de um instrumento musical. Era uma divindade grega dos bosques e das montanhas, por vezes também chamado Sileno. O nome lhe foi dado principalmente quando atingia a velhice, ficava barrigudo, feio e andando de burro.
Nota-se que o etarismo já era praticado com ênfase desde bem cedo em nossa existência.
Entre os romanos, os sátiros eram conhecidos por Faunos, e sua participação nas lendas era quase sempre secundária e pouco decisiva. Demônios da natureza, companheiros dos deuses, simbolizavam a capacidade criadora dos seres vivos, vegetais ou animais. Em termos gerais, os sátiros eram uma mistura de homem, cavalo e bode, variando conforme as versões das lendas.
A expressão “o juízo de sátiro” pode ser vista como uma forma de negativismo ou pessimismo. Quando alguém está constantemente cético em relação à beleza e ao amor, pode perder a capacidade de apreciar a vida em sua plenitude e deixar de aproveitar as oportunidades que surgem.
A vida perene deve ser entendida de várias formas. Encontrar o prazer sem azedume faz com que a filosofia exerça uma ginástica objetiva para lhe mostrar um caminho factível, com admiração da maioria de seus momentos.
Compreendido esse capítulo, reza a lenda que a pergunta a ser respondida é por que teimas em manter uma queixa frequente sobre seus dias, por que esperas que somente o amanhã lhe traga a felicidade?
Cuide-se no agora, bem antes que o entardecer lhe mostre que você perdeu mais um precioso dia.