O livro A Arte de Amar foi escrito em 1956 por Erich Fromm (1900–1980), psicanalista, filósofo e sociólogo alemão. A obra aborda o amor como uma forma de arte. Nele, o autor argumenta que o amor requer prática e concentração contínuas, além de maturidade, desenvolvimento pessoal, capacidade de amar o próximo, humildade, coragem, fé e disciplina. O pensador afirma, no terceiro capítulo:
“O amor é a única resposta saudável e satisfatória para o problema da existência humana”.
Fromm comenta sobre diferentes formas de amor, incluindo o amor romântico, fraternal, parental, erótico e o amor-próprio. Todos esses tipos de amor auxiliam o ser humano a lidar com a separação e a solidão. O amor também é analisado no contexto atual, sendo comparado à necessidade de consumo. Segundo o pesquisador, o que ocorre é uma relação de troca, na qual duas pessoas se apaixonam ao sentirem que encontraram o melhor produto disponível na aquisição de um objeto de prazer. Assim, o amor alienado segue a mesma dinâmica dos negócios e da relação de trabalho como sobrevivência.
A maioria das pessoas entende o amor como ser amado, ao invés de amar o outro como ele gostaria de ser amado. Na busca pela satisfação do desejo de amar e ser acarinhado, surgem conflitos que mostram que o amor não é um objeto instável, mas sim a capacidade de amar como uma sensação agradável e respeitosa. Esse desconforto ocorre quando a pessoa está alienada na própria autoestima, sem sentir afeto e sem conhecer a causa desse mal-estar, enraizado na escolha de um objeto de amor falso.
Nos últimos anos, a busca pela felicidade leva as pessoas a priorizar o ter sobre o ser, assim como a autoimagem enganosa e sedutora, na qual o sucesso e os bens materiais se tornam forças para sobrepujar os outros. Um equívoco comum relacionado ao amor ocorre quando se confunde a emoção inicial de se apaixonar com um estado permanente de amar. Quando duas pessoas estranhas se unem em uma só, esse momento de união pode ser uma das experiências mais intensas da vida. Isso se torna ainda mais vigoroso quando há atração sexual. No entanto, esse tipo de amor, por sua própria natureza, pode não ser duradouro e os envolvidos acabam perdendo o encanto um pelo outro. Com isso, surgem decepções. A excitação inicial desaparece. Nesse momento, não há consciência e a paixão é perdida, gerando uma insanidade no sentimento recíproco. Tem-se, assim, a prova do falso amor, confirmando-se o grau de solidão anterior, o fracasso e autodesvalorização.
O amor é uma arte que constrói dignidade onde não há. Deve-se amar mediante a disciplina da prática e da compaixão pelo outro. Isso é possível ao se desenvolver a sensibilidade, a intuição e o respeito ao próximo, desejando amá-lo da forma como ele deseja. O exercício contínuo da arte de amar deve ser uma prioridade. Segundo Erich Fromm, o amor pode ser visto de duas maneiras:
1
A união simbiótica (por exemplo, a necessidade que um bebê tem de sua mãe, e vice-versa) ou psíquica (mesmo estando em corpos independentes, as pessoas estão ligados psicologicamente);2
O amor amadurecido: mesmo estando unidas, as pessoas preservam sua própria integridade e autoestima.O filósofo afirma: “No amor, ocorre o paradoxo de que dois seres são um, e, no entanto, permanecem dois”. Essa frase apresenta a forma produtiva e não produtiva de enxergar o amor. Algumas pessoas veem o amor como um sacrifício e se recusam a dá-lo, enquanto outras o veem como algo que é melhor dado do que recebido. É uma experiência de crescimento. Sua falta é angustiante e doentia. Aqueles que se entregam ao amor não apenas doam vida, mas também trazem alegria, compreensão, conhecimento, humor e até mesmo tristeza com dignidade. Fromm ensina:
“Dar implica em tornar a outra pessoa também um doador de amor, de modo que ambos possam compartilhar a alegria de ter trazido algo à vida.”
Cuidado e responsabilidade são essenciais para o relacionamento amoroso amadurecer na arte do cuidar do outro. Preocupar-se verdadeiramente com o outro e deixá-lo livre são atitudes que enriquecem a habilidade de amar. O amor só é possível quando duas pessoas se comunicam mutuamente, compartilhando suas experiências de vida. Dessa forma, cada uma vivencia um novo sentido de existência a partir da prioridade da própria vida. Em meio a conflitos, é necessário ter autoestima e estar disposto a enfrentar constantemente o desafio de amadurecer emocionalmente, pois para amar o outro, é preciso amar primeiro a si, cultivando o amor-próprio.