O Helenismo refere-se à época da história da Grécia e de parte do Oriente Médio compreendido entre a morte do rei Alexandre Magno (356 ...

'Amor fati' do Helenismo

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O Helenismo refere-se à época da história da Grécia e de parte do Oriente Médio compreendido entre a morte do rei Alexandre Magno (356 a.C. — 323 a.C.) e a anexação da península e ilhas gregas pelo Império Romano, em 146 a.C. Espalhou-se pelo Ocidente e Oriente até o século III d.C., resultando na extensão da civilização grega por uma vasta região que se estendia do mar Mediterrâneo oriental até a Ásia Central. A expansão concretizou o ideal de Alexandre de difundir a cultura grega nos territórios que conquistava. Foi nesse período que as ciências tiveram notável desenvolvimento.

Para o homem grego clássico, a vida devia ser vivida na polia/cidade. O indivíduo precisava conviver na estrutura social e obedecer às leis. Por outro lado, o homem helenístico demonstrava que ele mesmo podia
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Pierre Valenciennes, 1788
exercer controle sobre si e que todos os seus bens materiais podiam ser destruídos e subtraídos a qualquer momento. Para alcançar a felicidade, a paz era construída por meio do autoconhecimento. Vigorava o convencimento de que o bem e o mal não se originam das coisas, mas unicamente da interpretação que se faz delas. A maldade e a bondade emergiriam quando o próprio julgamento permitisse a sua existência. Utilizar a sabedoria seria essencial para alcançar a invulnerabilidade.

As escolas helenísticas defendiam que todo ser humano tem a necessidade de raciocinar por um método científico, pois somente assim se alcança a verdadeira felicidade. As éticas dessas escolas se formaram a partir da intuição emocional e na paixão de viver. Elas se baseavam nos fundamentos concernentes à ontologia (estudo dos conceitos) e à lógica (análise do uso do raciocínio no comportamento, na escrita, na oralidade e na matemática). No aspecto quantitativo, a ética prevalecia sobre a física (natureza) e a lógica, já que constituía o objeto de maior interesse. No qualitativo, a ética priorizava a liberdade em relação às próprias premissas lógico-ontológicas. As doutrinas desse período são o Ceticismo, Epicurismo, Estoicismo, Cinismo, Escola peripatética, Neopitagorismo, Platonismo e Ecletismo.

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Pierre Valenciennes, 1788
O Ceticismo teve suas raízes no pensamento do filósofo grego Pirro de Élis (360 a.C. — 270 a.C.) e acompanhou o rei Alexandre em suas expedições no Oriente. Na viagem, ele encontrava culturas e sistemas políticos diferentes dos costumes gregos. O pensador observava que aquilo que era justo numa sociedade era injusto em outra. Uma característica da escola cética é a atitude de questionar qualquer dogmatismo ou o que lhe é apresentado com o objetivo de eliminá-lo, já que o cético busca manter um constante estado de dúvida em relação a possíveis verdades, impedindo que sejam naturalizadas ou consideradas possíveis em sua existência. Outro atributo é não admitir a existência de fenômenos religiosos ou metafísicos. O filósofo cético nunca afirmava uma verdade; ele precisava se desvencilhar das paixões para que sua serenidade
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Pierre Valenciennes, S.XVIII
não fosse perturbada pelas ilusões dos sentidos, mantendo-se, assim, sempre calmo.

O Epicurismo foi introduzido pelo filósofo grego Epicuro (341 a.C. — 270 a.C.). Ele era conhecido por ser o pensador do prazer e da amizade. A filosofia epicurista foi divulgada por seus seguidores, entre os quais se destaca o poeta latino Lucrécio (98 a.C. — 55 a.C.). Na física, a principal característica do Epicurismo é o atomismo. Na moral, a identificação do bem como prazer, que há de ser encontrado na prática da virtude e na cultura do espírito. A doutrina de Epicuro (a felicidade) consiste em assegurar-se com o máximo de prazer e o mínimo de dores, por meio da saúde do corpo e do espírito.

Os epicuristas ensinavam que o homem devia ser bom unicamente para aumentar a sua própria felicidade. Negavam uma existência de uma justiça absoluta e acreditavam que as instituições seriam justas enquanto contribuíssem para a felicidade do indivíduo. Rejeitavam qualquer conhecimento que se originasse de algo transcendental aos sentidos e defendiam que a felicidade podia ser alcançada por meio dessa doutrina voltada para a verdade. Seria necessário se distanciar do divino e compreender as leis do universo. Há três características principais: atomismo, que sustenta que o universo é formado pela matéria e que a alma é mortal;
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Pierre Valenciennes, 1788
crença na indiferença dos deuses, os quais, uma vez alcançada a felicidade, não governam ou moldam o universo; e a percepção dos sentidos como verdadeiros meios para compreender a verdade e alcançar o bem, sendo o bem aqui entendido como prazer.

Para os epicuristas, todas as sociedades complexas estabelecem certas regras necessárias, visando à manutenção da segurança e da ordem. Os homens obedecem a elas apenas por ser-lhes vantajoso. A origem e a existência do Estado estão baseadas diretamente no interesse individual. Epicuro não atribuía importância à vida política nem à social. Considerava o Estado como uma conveniência e aconselhava o cidadão a que não participasse da vida pública, pois esse homem sábio perceberá que não é possível extirpar os males do mundo, por mais exaustivos e sagazes que sejam seus esforços. Por isso, devem estudar filosofia e gozar da convivência de seus poucos amigos, do mesmo temperamento.

O Estoicismo, fundado pelo filósofo Zenão de Cítio (333 a.C. — 263 a.C.), nascido em Cítio, na Ilha de Chipre, apresentava a ideia de uma multiplicidade universal, representada pelas mudanças que ocorrem no cosmos. Suas características incluíam a existência de uma teoria dos signos, a noção de que o ser humano deve ser guiado pela razão e a busca do equilíbrio em relação às paixões dos sentidos.

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Pierre Valenciennes, 1819
Segundo a filosofia estoica, todo o Universo é governado por uma razão universal e divina. Esta ordem define todas as coisas. Tudo surge a partir dessa essa razão e de acordo com ela. Sua ética rigorosa (conforme as leis da natureza) proclama que o homem sábio se torna livre e feliz quando não se deixa escravizar pelas paixões e bens materiais.

O Cinismo teve origem com o filósofo grego Antístenes (445–365 a.C.). Os cínicos viviam uma vida de virtude conforme a natureza e rejeitavam todos os desejos convencionais de riqueza, poder político, força ou fama. Valorizavam as amizades e buscavam uma existência desprovida de posses, sem luxo e bens. Para eles, a liberdade era o objetivo supremo da vida.

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Pierre Valenciennes, S.XVIII
A Escola Peripatética (que caminha) foi instituída pelo filósofo grego Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.). O caminho para a felicidade reside no equilíbrio entre falta e excesso e na harmonia entre razão, hábitos e natureza.

O Neopitagorismo surgiu no século I a.C. Suas características apresentavam os números como elementos essenciais para a compreensão e representação da estrutura do Universo, assim como o misticismo e a crença na transmigração da alma de um corpo para outro.

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Pierre Valenciennes, 1786
O Platonismo é a filosofia desenvolvida pelos seguidores do filósofo grego Platão (428/427 a.C. — 348/347 a.C.). O seu conceito central era a teoria das ideias: o mundo transcendental contém arquétipos perfeitos, dos quais os objetos neste mundo são cópias imperfeitas. A forma suprema era a Forma do Bem, a fonte do ser, que só pode ser compreendida pela razão.

O Ecletismo (do grego eklektikos, eleger) buscava um consenso entre as diversas outras escolas filosóficas. Construía conceitos referentes a arte, ciências, religiões e política.

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