O poder político mantém certas ideias para gerir uma nação e desenha caminhos fartos de opções no cotidiano do povo, à espera de sua colaboração e sustento.
O poder da biologia carrega em suas raízes a capacidade de escrever a data de seu velório. Já o poder espiritual sustenta a igreja com determinadas regras e posturas limitadas pela fé. Substancialmente diferenciado, com espírito e alma aos pés de sua prole, esse poder carrega a eternidade como salvação das almas e mantém o religioso atento às esperanças de paz no céu, após sua partida.
Como entender o predomínio de um poder que domina a data, o povo, suas decisões e suas aspirações, se os propósitos parecem distintos e as forças diferenciadas?
No tempo de Milcíades, um jovem general helênico que comandou a vitória sobre os persas, na região mediterrânea, ignorava-se a existência do mundo extremo-oriental. O poder exercido em tal época não tomava conhecimento de absolutamente nada mais além da poderosa Atenas, maior potência da antiga Grécia.
Esse isolamento vaidoso transformou o general soberbo em um derrotado e preso ao final malogrado. De maneira similar faziam os guerreiros de Atenas para suas mulheres. Elas teciam para seus homens, soldados, ausentes além da morte, dedicando-se aos filhos e ao sustento da família. Talentosas e subservientes à supremacia masculina, entregaram suas vidas e desejos ao se empenhar nas lides domésticas, na servidão sexual, na procriação para alimentar a guerra. Por isso, sofreram suas perdas.
A Grécia Antiga não era uma nação, mas, sim, um conjunto de cidades-estados cujos povos possuíam algumas características em comum, como a semelhança linguística, e, assim, eram chamados genericamente de gregos. Contudo, ninguém jamais exerceu tanto poder na terra quanto a soberania da opinião pública, que é a força radical e que produz nas sociedades humanas o fenômeno de mandar e descobrir o que é verdadeiro.
A verdade é algo instável, resultado de uma negociação, porque a história é contada com a versão de cada narrador. E o poder é a questão central de nossa existência. É a maneira como estamos dispostos a aceitar o valor de certos discursos contra outros. Isso depende de quem está falando. Se é poderoso, homem ou mulher, branco ou negro. Sempre irá exercer uma trama subjetiva nas mentes do povo, que se mantém na expectativa do próximo passo, que o leve à redenção.
Além da morte, não sabemos ao certo o que é verdade, apenas até o seu momento.