Sem dúvida é um dom. A dádiva de quem foi presenteado para fazer com naturalidade e criar a beleza que para maioria foi simplesmente negada. E isto não tem preço. A capacidade de construir o novo ou o belo não concebido, ou até o nunca antes pensado é um diferencial para uma vida inteira.
Mas não só isso, a capacidade de tornar o mediano, uma simples intenção ou esboço de algo já existente que tenha vindo à tona de forma ainda incompleta, sem o polimento, nem o brilho necessário, e ser capaz de fazê-lo, também deve ser considerado porque,por vezes, ampliar um trabalho já iniciado pode ser mais difícil, pois terá que se perceber com maior profundidade e clareza o que até então era mera intuição.
A percepção dos detalhes enriquecedores pode ir além de uma co-autoria. Aqui o artista teria menos liberdade para ampliar um conceito já definido. A obra por si só exigiria um fluxo de ideias de tal forma ajustada que a percepção de uma adaptação, por mais bem realizada que fosse, poderia resultar em lugar comum. Isto impediria o salto qualitativo exigido para obter harmonia e diferenciação estética.
Esta composição, resultando em unidade construtiva, poderia se expressar em cores, no caso da pintura; na profundidade ou na leveza do saber pensar e reproduzir o pensamento de um conteúdo literário; na harmonia musical ou em qualquer outra forma de expressão artística sem um rebuscamento histriônico e pouco natural. Não se exige na criação artística um rebuscamento não natural, exagerado, mas que venha completa, mesmo de forma simples, esgotando-se a criação de maneira genuína, em que qualquer adorno seria artificial, desnecessário ou mesmo prejudicial.
Ao criá-la o artista deve ter em mente total conhecimento do que, de fato, pretende e acima de tudo o dos reais limites do que deseja presentear ao mundo. Seja ela erudita ou popular, é um elemento até certo ponto secundário, mas obrigatório é que traga integridade e conteúdo no produto final.
A inspiração é importante, mas o fundamento de uma obra de arte é muito mais decorrente de uma ideia inicial e do trabalho a ela dedicado ao longo do tempo de sua criação. Este tempo permite entender a resposta dada por uma grande bailarina ao ser questionada como conseguia expressar tanta beleza em sua dança. Ela pensou e respondeu sem mistificação que o seu limite foi essencialmente obtido pelo número de horas de trabalho, às quais se dedicou por dias, ao longo do tempo, no seu processo criativo e, secundariamente, pela inspiração.