Muitos pensam que ser revisor de textos é exercer um ofício que se restringe a viver à cata de erros de ortografia, concordância, crase, regência, colocação pronominal, acentuação, pontuação, repetição de palavras, etc. Bem, dado que muitas são as pessoas que não dominam a gramática normativa (incluindo pré-concluintes do curso de Letras), já se deve considerar que o conhecimento desse aspecto da língua é um grande feito. Todavia, a revisão vai para além do normativismo, ela visa o aperfeiçoamento do texto, o que implica considerar questões relacionadas à precisão vocabular – a busca pela palavra “exata”,
aspectos semânticos, ambiguidade, coesão e coerência, paralelismo sintático, entre outros itens da linguística textual.
Além disso, ao se contratar um revisor, pode-se contar com o olhar de um profissional especializado, que traz consigo uma perspectiva mais distanciada do texto. Explico: quando escrevemos, é natural não enxergarmos os nossos padrões de erro, tendências na construção textual, a falta de clareza que, por vezes, empregamos ao texto – haja vista que, como autores, sabemos bem o que gostaríamos de dizer, mas nem sempre alcançamos o efeito pretendido. Quem vive da tarefa de escrever e analisar textos tem maior habilidade para alcançar o propósito comunicativo e conferir maior força ilocucional ao enunciado. Está em pauta mais do que uma análise meramente da gramática escolar, uma mobilização de conhecimentos discursivos essenciais para produção textual.
Contextualizo a profissão do revisor para que se descontrua a visão de que grande parte da sociedade ainda tem sobre o revisor, limitando-a ao aspecto do domínio de regras tradicionalistas, como se a língua fosse um corpo estanque, estático. Na verdade, a língua portuguesa (e outras tantas) é flexível, passa por constantes transformações, e o nível de linguagem muda a depender do contexto. É imprescindível que a pessoa para a qual se dirige o texto – oral ou escrito – seja levada em conta para que efeito comunicativo tenha, de fato, sucesso.
O problema é que se subestima o treinamento quando se trata de aumentar a performance no trato linguístico. Todos nós temos a competência como capacidade de falar e escrever, ressalvados os casos relativos à cognição e ao analfabetismo. Porém, é bem diferente escrever “certo” de escrever bem. Para se tornar um bom redator e revisor, é necessário unir vasta leitura, o que significa explorar diversas áreas de conhecimento e vários gêneros textuais, bem como – claro – escrever constantemente, além de dominar a norma-padrão, como já mencionado. Ainda: atenção e paciência são fundamentais para não se deixar ser levado pela afobação no momento da leitura e revisão dos textos.
Com tudo isso, não pensem que esses profissionais são imunes a erros. Eles também precisam de um revisor. É como um psicólogo que precisa de um acompanhamento de outro colega. Afinal, todo texto pode ser melhorado, por mais que tenha passado por diversos reparados. Há até quem diga que não publicamos um escrito, abandonamo-lo.
Deveria ser obrigatória a revisão de todo texto que viesse a público, principalmente em documentos e em informativos de empresas e escolas, sejam elas públicas ou privadas. Sei que nem todas as pessoas têm acesso a um profissional do ramo, devido às condições financeiras e, principalmente, à vida acelerada de cada um de nós. Entende-se o primeiro fator, mas o segundo não deveria ser justificativa para o desleixo. Negligenciar o valor de uma boa revisão textual é um desamor não só à língua, mas também ao autor do texto.