Como já dissemos por aqui, uma das decepções que tivemos em viagens de além-mar aconteceu ao realizar um grande e antigo sonho: caminhar por Cafarnaum, cidade predileta de Jesus, e pelas praias do “Mar da Galileia”, na verdade um grande lago, justamente por onde o mestre dos mestres caminhou, pregou, curou e angariou apóstolos e discípulos. Foi quando constatamos que a maioria do povo de Israel não dá a devida importância a Jesus, nem aos recantos sagrados de lá. Eles nem acreditam que o Cristo é o Salvador prometido nas profecias. Ainda estão esperando pelo Messias. Enquanto isso, matam-se e guerreiam entre si, em nome de um deus estúpido, como agora o mundo presencia horrorizado. Mais horrorizado ainda ao ver que exatamente a região onde foi primeiramente divulgada a Boa Nova, que é berço das três maiores religiões do mundo, é palco das mais atrozes violências entre povos vizinhos.
Esta realidade se mostra ainda mais crua em época de Natal, ainda que também nos faça lembrar das pesquisas que indicam como incerta a data em que Jesus nasceu. Há seitas que por isso até desmerecem as homenagens do dia 25 de dezembro, quando o mundo ocidental comemora o aniversário de Jesus.
Mas não importa se foi, ou não, em dezembro ou junho que veio à Terra aquele que, apenas com sua mensagem de amor e exemplo de vida, foi capaz de dividir a história da humanidade em antes e depois de sua chegada. Aquele que influenciou e deixou sua marca nos mais ocultos e longínquos recônditos da superfície terrestre, tanto nas românticas cumeeiras da igreja de Santa Maria de Bergen, na Noruega, como na torre da capela de São Francisco de Assis, em Riacho dos Cavalos, na Paraíba.
E assim como criaram o dia dos pais, das mães, do professor, do médico, do arquiteto, por que não escolher uma data para lembrar dele com mais ênfase? Ele que foi o maior dentre os que já encarnaram neste planeta!...
Entretanto, o Natal, assim como todo o Cristianismo, tem evoluído ao longo dos anos para práticas cada vez mais distantes de seu patrono. Esqueceram justamente daquilo que mais essencial e verdadeiro há nos seus ensinamentos.
Esqueceram da simplicidade e da humildade ressaltada como a virtude dos que merecem o Reino dos Céus. E assim, erigiram e continuam erigindo templos ricos e suntuosos pelo mundo afora, para atrair os que são fáceis de enganar. Esqueceram de que o Mestre advertiu para não acumularmos riquezas materiais, que são incompatíveis com os tesouros celestiais. E hoje, o que se vê, é igreja virando empresa, cada vez mais rica.
Esqueceram de que Jesus recomendou para que quando quiséssemos orar nos recolhêssemos à intimidade de quatro paredes, ou em contato com a Natureza, como sempre fez, em absoluto silêncio. Ele foi quem mais criticou a maneira como os fariseus oravam, em voz alta e em público. E hoje o que se veem são eventos cada vez mais exibicionistas, templos que mais parecem casas de show, procissões e “caminhadas” que usam até ensurdecedores trios elétricos...
Esqueceram de se livrar da sectária e paradoxal intransigência religiosa desbancada pelo Nazareno ao dizer: "Meus discípulos se conhecerão por muito de amarem", independentemente se são ateus, crentes, católicos, ou mesmo institucionalmente cristãos.
Também esqueceram da maior lição que há no Evangelho, acerca do amor, do respeito e da compreensão solidária, que não admite nenhum tipo de discriminação e preconceito. Lição evidenciada no tratamento que o Mestre dispensou à mulher adúltera e na sua amizade à Maria Madalena, mulher menosprezada pela sociedade de então, mas que terminou sendo a escolhida por Jesus como a primeira a quem ele apareceria após ressuscitar. Mas hoje vemos crenças religiosas pregando a homofobia e ainda discriminando as mulheres, sem sequer permiti-las pregar, batizar nem conduzir suas liturgias...
E assim, todos os anos, na Noite Feliz, a grande maioria esquece não só da mensagem do Evangelho, mas, principalmente, do seu magnífico e homenageado autor, símbolo do amor incondicional que deveria ser o Natal de todos os dias!