No caminho para o Sertão, já nas proximidades do limite da Paraíba com o Rio Grande do Norte, nos deparamos com um bonito lugar, fascinante e acolhedor.
Na cidade de Jericó, homônima da antiga Jericó bíblica, me deu vontade de ficar ali por mais tempo, esperar manhãs para colher o sol ao surgir por detrás de colinas, e no entardecer, recolher paisagens como mensagens espirituais.
Na cidade de Jericó, homônima da antiga Jericó bíblica, me deu vontade de ficar ali por mais tempo, esperar manhãs para colher o sol ao surgir por detrás de colinas, e no entardecer, recolher paisagens como mensagens espirituais.
Observando a paisagem de Jericó, recordei Serraria, inspiração maior, onde nasci e cultivei sonhos. Firmei compromisso de retornar ao lugar para olhar a arte da Natureza espalhada pela região.
Gosto de andar pela Paraíba. Conheço diferentes lugares, escuto pessoas, converso sobre a vida que levam. Isso me ajuda na montagem de alfarrábios e alimentam sonhos de escritor. Jericó é a cidade paraibana que poucas vezes visitei.
A profissão de repórter me proporcionou apreciar lugares inesquecíveis. Citaria muitos desses recantos extremamente encantadores, mas fico com esta cidade encravada nas proximidades de Catolé do Rocha. Em outro extremo da Paraíba, lugar mítico é Serraria, no Brejo, que erradia emoção quando andamos por suas ladeiras e observamos córregos de água cristalina nas vazantes, onde o vento açoita os cabelos das mulheres como se fosse as folhas palmeiras espalhadas pelos canaviais.
Mas voltemos a falar de Jericó. Lugar exótico, de vegetação não diferente das existentes em léguas ao redor. Há algo naquela região me agarrou. Busquei identificar, sem sucesso. Pensei ter sido a suavidade da brisa no final da tarde.
Naquele dia, ao entardecer, observei pelas encostas pequeno rebanho de gado obediente ao aboio do menino. As vacas, os bezerros e as novilhas seguiam o touro rufião, no rumo da voz de comando do pequeno vaqueiro.
Mais do que impressionar, Jericó trouxe lembranças do sítio onde vivi minha infância, quando ficava em cima do mourão da porteira ou no pastoreio do gado, chapéu de couro de meu tio vaqueiro na cabeça, com a barbicha dependurada até o peito. Ou quando montava em cavalo-de-pau, esquipava pelo terreiro e capoeiras, repetia o aboio que somente eu escutava e fazia o pastoreio do rebanho imaginário.
Ao juntar imagens de Jericó, a que mais se fixou na minha mente foi a Capela da Imaculada Conceição, construída no alto de uma serra, nos arredores da cidade. Bela e imponente, presente de empresária, filha da terra.
A pequena cidade de Jericó teve origem na inspiração do temido Oliveira Ledo, que caiu nas graças dos comandantes da Colônia e, com o aval destes, avançou pelo interior da Paraíba, ocupou terras férteis no regaço dos rios, mesmo que com isso exterminasse grupos de indígenas, escorraçasse habitantes dos lugares por onde passava. O que queria era expandir negócios e criar rebanhos de gado, mesmo com o extermínio de gentes nativa. Escorraçados, indígenas e caboclos se sujeitaram ao cutelo do novo dono das terras. Coube a Capitão José Fernandes da Silva, integrante deste grupo, após receber concessão do Rei de Portugal, nos primeiros anos do século 18, desbravar as terras atualmente pertencentes ao município de Jericó.
Estes desbravadores chegaram ao lugar depois de ocupar a região de Pombal e descobrir muita riqueza naquelas bandas. Subiram o riacho do Quixó Penoso, que desaguar no Rio Piranhas e desemboca no Rio Grande do Norte, se apoderaram das terras com o intuito de explorar suas riquezas.
Em 1922, o bando de Lampião esteve no lugar, arrastou tudo encontrado na vila de Jericó. Da troca de tiros em fazendas da redondeza, muito se fala e alguns recordam por ouvi dizer, existe quem tem cartuchos e espoletas recolhidos pelos mais velhos, guardados como relíquias.
O entardecer, o menino vaqueiro, as histórias do cangaço e a Igreja da Imaculada Conceição, destacando-se no cocuruto da serra e percebida à distância, são imagens que guardo de Jericó.