No outono de 1684, o grande poeta do período Edo, Matsuo Basho, passou pelo Monte Fuji, que estava escondido por névoa e chuva, mas Basho - monge leigo e autor de relatos de viagem poéticos - valeu-se da sua capacidade de “enxergar” através dos obstáculos. A montanha estava presente, em espírito. Ele estava feliz por sabê-la ali.
O poema me veio à mente quando o guia anunciou que, neste outono de 2023, por causa da neve, estavam fechados os caminhos que me levariam à terra sagrada do Fuji-san.
Eu o vi de longe, seu pico pedregoso coberto de neve sob o rosto feminino do sol (outro haikai famoso de Basho). Eu o vi, enquadrado pela câmera, junto ao rosto do meu filho. E fiquei feliz por sabê-los ali.
Ei-lo refletido nas límpidas águas do lago Ashi. Ei-lo como que flutuando entre nuvens. Ei-lo a encher de paz o meu coração.
O Monte Fuji é um cone simétrico sem outras montanhas próximas - exceto o Ashitaga, ao sul. Sua serena solidão dialoga com a minha.
Tem pouco mais de 3.700 metros e é um vulcão ativo (embora esteja dormindo há três séculos). Lembra a alma humana.
No sopé da montanha símbolo do Japão, que os antigos acreditavam ser a morada dos deuses, pensei no quanto é fácil crer na lenda de que Fuji se formou em uma única noite. Sua majestosa presença nos convida a inclinar a cabeça e pensar em mágica. E, ainda assim, é magnífico testemunhar o artesanato da Natureza ao longo dos milênios.
Visões do Monte Fuji (Japão) Sonia Zaghetto
A região de Fuji-san e Hakone, com o lago Ashi, é uma das mais belas do Japão. Visitá-la, com seus templos isolados e paisagens de sonho, é um presente aos olhos e ao espírito. Não admira que tenha fascinado artistas e filósofos ao longo dos séculos.
Dica do dia: há excursões excelentes para Fuji e Hakone, saindo de Tokyo em ônibus muito confortáveis, com almoço incluído, passeio de barco pelo lago Ashi e voltando no mesmo dia pelo Shinkansen, o trem-bala. A experiência é a tradução do Japão: saímos da Antiguidade direto para o século 21 em um piscar de olhos.