O pensador grego Antístenes de Atenas (445 a.C. - 365 a.C.), considerado o fundador da Filosofia Cínica, possuía um estilo didático e elegante em suas conversas. Sua principal tese sobre a Ética propõe que a virtude é o propósito da existência. Tudo o que um cidadão faz deve estar em acordo com o bem supremo, que é compartilhado por todos. Essa virtude consiste em ação e está relacionada à razão. Para que ela se manifeste na prática e torne-se suficiente para que a própria felicidade seja alcançada,
é necessário desenvolvê-la por meio do diálogo.
Em relação à lógica, Antístenes estudou sobre os universais. Como nominalista, ele acreditava que definições e predicados apresentam somente dois valores lógicos possíveis: ou são falsos ou são tautológicos (verdadeiros). Só podemos afirmar que cada indivíduo é o que ele é, e não conseguimos fornecer mais do que uma simples descrição de suas qualidades. Neste exemplo, em relação a um cavalo, Antístenes afirma: "Eu vejo um cavalo, mas eu não vejo a qualidade inerente a todos os cavalos." (Simplício da Cilícia (490 – 560), in Arist. Cat. 208, 28). Observa-se, no argumento, o método circular de declarar uma identidade. Afirmar que “uma árvore é um vegetal que cresceu” não faz mais sentido (em termos de lógica) do que dizer que "uma árvore é uma árvore".
Das obras do filósofo restaram apenas fragmentos. Duas de suas declamações sobreviveram: Ajax e Odisseu. Ambas são retóricas.
Durante o período clássico da filosofia grega, entre os séculos 5 a.C. e 3 a.C., o Cinismo ficou conhecido por rejeitar as normas sociais, buscando uma vida simples, em harmonia com o que a natureza providenciava para a sobrevivência dos seus seguidores. Esses filósofos zombavam das pessoas que se consideravam sábias. Eles acreditavam que a virtude consistia em aceitar as consequências de uma vida desprovida de bens materiais e defendiam uma existência sem ansiedades, conhecida como ataraxia.
Epicuro de Samos (341 a.C. - 270 a.C.) foi um filósofo grego do período helenístico. O Epicurismo buscava a serenidade, dando prioridade ao prazer moderado, a fim de manter o equilíbrio para a conquista da felicidade. Negar o prazer na existência humana é uma agressão à alma. Assim, o prazer humano é o que torna a vida suportável. Os epicuristas valorizavam os prazeres que consideravam mais importantes e simples, como ter amigos, conviver em boa companhia e alimentar-se de forma saudável.
Para o Estoicismo, seria possível alguém alcançar a serenidade ao aceitar tudo o que não pode ser alterado. A razão divina está relacionada a todas as coisas e, portanto, importa-se apenas com aquilo que podemos modificar. A Filosofia Estoica teve início com o filósofo grego Zenão de Cício (334 a.C. - 263 a.C.) e é conhecida como a filosofia da coragem. Devemos enfrentar aquilo que pretendemos modificar. Importar-se com o que pode ser modificado é a condição para a paz de espírito que se encontra entre o que deve e o que não deve ser feito.
Os cínicos gregos defendiam viver sem angústias. A busca pela tranquilidade da alma é parte do processo de se aproximar da ataraxia. Para eles, era necessário buscar uma maior naturalidade em relação ao que é importante na realidade, ou seja, o simples e o bem supremo que é comum a todos. Eles continuaram respeitando o que é natural e desrespeitando as rígidas convenções sociais que não beneficiavam o bem-estar de todos. Para os filósofos cínicos, os valores da sociedade da época eram desarmônicos, especialmente nos aspectos da religião, da política e da ética. A arrogância ditava as verdades e forçava a alienação dos cidadãos. No âmbito político, o cinismo grego não seguia as falsas normas estabelecidas pelo cruel poder do Estado ou pela rigidez das instituições. A prática filosófica do cinismo tinha como consequência não aceitar um valor moral perverso presente na sociedade.
Os cínicos acreditavam que a virtude residia em aceitar as consequências de uma vida sem ostentação, sem possessões materiais e desprovida de qualquer poder humano sobre o outro. Eles demonstravam seus ideais de felicidade por meio de ações voltadas para a simplicidade como um bem comum, tanto para si quanto para todos. Sobreviviam apenas com o necessário, oferecido pela Natureza. Vivenciavam a máxima simplicidade e a contemplação intensa da beleza do Universo.
Finalizo com o poema O apanhador de desperdícios do cuiabano Manoel Wenceslau Leite de Barros (1916 - 2014):
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.