Arte e Estética na contemporaneidade

A obra de arte, geralmente, é um fenômeno histórico. Estudar uma expressão artística é compreender a diversidade cultural de um país e suas variações temporais ao longo dos séculos. As análises sociológicas da arte frequentemente se apresentam como desafios complexos para críticos e filósofos, pois entender a essência da arte e de sua função social é uma tarefa árdua e complicada. Estar diante de uma obra de arte é vivenciar a sua manifestação cultural num determinado período da história.

Guido Guidi, 1880

O objeto da arte também constrói a dignidade humana e imortaliza-se como patrimônio afetivo de uma consciência coletiva. A obra — ao se tornar um bem comum — impulsiona o senso crítico dos cidadãos. Arte gera a transformação social, enquanto a estética revela o gosto artístico de um povo quando incorpora valores morais à própria obra de arte.

Ao longo de diferentes épocas da humanidade, a arte tem sido influenciada pela beleza encontrada na natureza, no corpo humano e como meio de irmandade entre membros da comunidade. Alguns artistas, quando constroem sua obra, inspiram-se nos valores artísticos e morais da Antiguidade Clássica, ou seja, na cultura greco-romana, como forma de afirmar seu pertencimento social e/ou de denunciar as injustiças contra a dignidade humana.

Nos séculos 14 a 17, as obras de arte expressaram as revoluções políticas e econômicas, buscando, ainda, a unicidade e a harmonia entre a natureza humana, o Cosmos e Deus. Elas estão expostas na pintura, na escultura, nas construções, no elegante ordenamento urbano, no impacto do belo e do sublime, na arquitetura e em outras formas de manifestação artística. Essas obras, quase todas, foram construídas com o uso da proporção áurea (1,61803398875), número irracional descoberto pelo escultor e filósofo grego Phidias (480 a.C. — 430 a.C.).

George Clausen, S.XX

Phidias foi um dos pensadores que promoveram a escultura grega do período arcaico (de 800 a.C. a 500 a.C.) para o período clássico (400 a.C. a 100 a.C.).

No século 18, a produção artística priorizava a simplicidade. Os cidadãos interpretavam os temas expostos na arte de forma acessível a todos. Nos séculos seguintes, a história da arte demonstra a crescente irreverência contra as censuras das teorias normativas (determinados comportamentos e expressões estéticas obedeciam à rígida norma social), que bloqueavam os sentimentos de errância e as pulsões do inconsciente do artista transferidos para sua obra.

Em livro intitulado A estetização do mundo (2015), Gilles Lipovetsky (1944), pensador francês, narra que os cidadãos sempre produziram fenômenos estéticos, inclusive nas sociedades primitivas. Isso pode ser observado por meio de acessórios, pinturas corporais, objetos esculpidos, máscaras, penteados, músicas, danças, festas, jogos e muitos outros elementos.

Jules Ernest Renoux, S.XX

O filósofo ressalta que toda sociedade se interessa pela atividade de estilização e pela necessidade de humanizar-se, buscando o bem-estar social e a socialização do gosto estético como parte da identidade coletiva. Uma tese sua apresenta o argumento de que, desde o início do século 20, a era moderna se estruturou na oposição entre: o puro e o impuro; o autêntico e o vulgar; a arte de elite e a cultura de massa; as vanguardas e as instituições. Essa dinâmica gerou uma crescente desvalorização da arte. Nesse período, a estética considerava como objeto de estudo as perturbações psíquicas e as falhas existenciais. As pesquisas buscavam novos estilos e técnicas para identificar os artistas e suas vanguardas, nas quais se incluem: cubismo; futurismo; construtivismo; expressionismo; fauvismo; dadaísmo; surrealismo; Art Nouveau (arte nova) e outros.

Anne Archer, S.XX

Os artistas expressavam as angústias do período pós-Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, como também as violentas revoluções sociais e a queda do Império Austro-Húngaro (1918). Surgiram, então, teorias estéticas e antiestéticas no mesmo tempo e lugar. Os estetas desenvolveram suas teorias que ficaram conhecidas por “civilização da imagem”, “era do vazio” e “individualismo contemporâneo”.

A partir da segunda metade do século passado, a arte abstrata utilizou sua natureza mediadora como forma de aproximar o sensível e o inteligível, para reconstruir afetos nos espectadores e reconhecer — na sociedade — as angústias inacessíveis à razão, como uma manifestação do inconsciente de todo ser humano.

Evitar a alienação do cidadão é um dos propósitos da estética. Apesar disso, a arte passa a seguir as regras do mercado na sociedade globalizada consumista, perdendo sua função crítica diante das realidades sociais. A construção de valores artísticos se converteu em uma cruel ferramenta de manipulação mercadológica, política, social e ideológica. Em tal contexto, Lipovetsky afirma:

“Enquanto as críticas à indústria moderna, acusada de espalhar a feiura e a uniformidade, cresce o desejo de tornar bela a vida cotidiana de todas as classes, também há vontade de introduzir arte em todos os lugares e em todo espaço por meio da regeneração e da difusão das artes decorativas.”

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LIPOVETSKY; SERROY, 2015

"Monet Pintando em Seu Jardim, em Argenteuil"Pierre Auguste Renoir, 1873

A estética contribui para preservar a liberdade, essencial para a arte expressar a dignidade humana. No livro A Ideologia da Estética (1990), Terry Eagleton (1943), filósofo e crítico literário britânico, discorre:

“A estética não fará a humanidade ser livre, moral e verdadeira, mas a preparará internamente para receber e responder aos imperativos racionais.”

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1993, p. 81

Considerando isso, o ensino de estética deve ser inserido na matriz curricular das escolas e ser aplicada nas atividades artísticas entre os jovens e adultos para que possam vivenciar a liberdade, a felicidade e o bem-estar social.

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