Lev Nikoláevitch Tolstói (1828 - 1910) nasceu em Yásnaya Polyana e foi um escritor russo. Sua obra abrange romances, novelas, contos e também trabalhos de não ficção. Ele é conhecido por apresentar em suas obras personagens trágicos, sátiras, ironias, uma visão crítica do nacionalismo, doutrinas morais, adultério, narrativas psicológicas, situações sociopolíticas, críticas à aristocracia e às religiões, bem como as contradições entre ceticismo e dogmatismo, entre outros temas. No livro Os Cossacos (1863), Tolstói explora a ideia de que a felicidade existe em estar em contato com a natureza, observá-la e conversar com ela. O seu trabalho mais reconhecido é o romance histórico Guerra e Paz (1869) que trata da invasão napoleônica. No final da década de 1870, Tolstói passou por uma crise existencial e redescobriu sua dignidade através dos ensinamentos de Cristo, em especial, o texto bíblico do Sermão da Montanha. Ao mesmo tempo, ele denunciava a corrupção presente nas igrejas cristãs, que distorciam os valores humanos do cristianismo. A partir dos anos 1890, Tolstói concentrou-se em escrever sobre questões morais, estéticas e políticas. Nessa fase, ele escreveu o livro O que é arte? (1898).
Lev Tolstói tinha uma visão desfavorável da arte europeia do século 19, a qual considerava artificial e perversa. Ele criticou todas as teorias estéticas da época por não reconhecerem que a finalidade da arte é o avanço moral da humanidade. Por exemplo, segundo o romantismo, a arte deveria buscar compreender a alma humana, embora a maioria das obras nesse período fosse associada ao realismo, como Os Miseráveis (1862), do escritor francês Victor Hugo (1802-1885). O movimento "arte pela arte" defendia que a arte não deveria ter qualquer outra finalidade além de si mesma. O decadentismo acreditava que a arte possuía valor autônomo e não poderiam existir obras de arte morais ou imorais. As noções de beleza e prazer que fundamentam a estética kantiana e a metafísica hegeliana do belo. Essas são algumas das críticas de Tolstói.
No livro O que é arte?, em seus 20 capítulos, Tolstói defende uma arte voltada para a simplicidade, a qual deve está acessível a todos. A teoria da arte de Tolstói, apresentada no livro mencionado, no capítulo 5 - DEFININDO A ARTE: UMA DEFINIÇÃO DE ARTE TOTALMENTE INDEPENDENTE DA NOÇÃO DE BELEZA, inclui o conceito de arte funcionalista, em que a arte desempenha uma função na sociedade e também deve ser essencialista, ou seja, fazer parte da essência de todas as obras de arte desempenhar tal função. Tolstói afirma: "A arte é uma atividade humana que consiste em alguém conscientemente transmitir aos outros, por meio de sinais exteriores, os sentimentos que experiência, de modo que outras pessoas sejam contagiadas pelos mesmos sentimentos, vivenciando-os também" (2019, p.82). A arte é "Um meio de comunicação indispensável para a vida e para a evolução em direção ao bem de um indivíduo e da humanidade, unindo-os nos mesmos sentimentos" (ibidem).
No capítulo 15 - A DIFERENÇA ENTRE ARTE AUTÊNTICA E ARTE FALSA. Sua teoria justifica que a arte contribui para o progresso moral da humanidade. A principal atração e característica da arte está na união que ela promove entre os indivíduos. De acordo com Tolstói: "O grau de contágio é também o único indicador do valor artístico" (2019, p.194). Portanto, "Quanto mais intenso o contágio, melhor é a arte em si (...) independentemente do valor dos sentimentos transmitidos" (ibidem). A arte se torna mais ou menos contagiosa dependendo de três condições: a particularidade do sentimento que é transmitido, a clareza na transmissão desse sentimento e a sinceridade do artista.
No capítulo 16 - AVALIAÇÕES DE OBRAS DE ARTE. Há o argumento de que a arte elimina os sentimentos negativos e possibilita a existência de sentimentos melhores e mais necessários para o bem da humanidade. Segundo Tolstói: "A arte é melhor em seu conteúdo quando cumpre seu propósito, e é pior quando o cumpre menos" (2019, p.197).
No capítulo 18 - QUAIS AS EMOÇÕES QUE UNEM E CONTRIBUEM PARA O APRIMORAMENTO MORAL DA HUMANIDADE? Segundo Tolstói: "Assim que a consciência religiosa (...) for conscientemente reconhecida, a divisão entre a arte das classes altas e baixas será anulada. (...) Quando isso ocorrer, a arte deixará de ser o que tem sido nos últimos tempos - uma forma de corrupção e de brutalização das pessoas - e se tornará o que sempre foi e deve ser: o progresso da humanidade em direção à união e ao bem" (2019, p.231).
No capítulo 19 - A ARTE DO FUTURO. Contrapondo a exclusividade da arte nas classes privilegiadas financeiramente, o escritor russo destaca o desejo de que a arte se torne universal e acessível a todas as pessoas, ou seja, a arte do futuro demanda clareza, simplicidade e concisão. Tolstói afirma: “O conteúdo da arte do futuro será apenas os sentimentos que atraem as pessoas para a união (2019, p. 240).
Os temas encontrados no livro O que é arte? são: Capítulo 1 - O valor da arte; Capítulo 2 - A valorização da arte devido à criação de obras belas; Capítulo 3 - Reflexões sobre o conceito de beleza; Capítulo 4 - A circularidade das respostas no subjetivismo; Capítulo 6 - O impacto da perda dos princípios cristãos no conceito de arte; Capítulo 7 - A confusão entre o bem, a beleza e a verdade; Capítulo 8 - A influência dos interesses e preocupações das classes alta na distorção da função da arte; Capítulo 9 - Caracterização da arte elitista das classes dominantes; Capítulo 10 - A exclusividade da arte; Capítulo 11 - Os mecanismos de falsificação da arte; Capítulo 12 - O que leva as pessoas a optarem por falsificações artísticas, em vez de apreciarem a autêntica?; Capítulo 13 - Exemplos de arte forjada, como O Anel dos Nibelungos do alemão Wilhelm Richard Wagner (1813 - 1883); Capítulo 14 - O questionamento da maioria do que é considerado arte, sendo que nem tudo é arte ou apenas se trata de má qualidade artística; Capítulo 17 - Uma abordagem do valor da arte; Capítulo 20 - O papel da Arte e da Ciência no aprimoramento da humanidade.