Os caminhos do Sertão me desviavam para a Praça do Centenário, em Pombal. Logo ao chegar à calçada da Igreja do Rosário, sob a sombra de suas grossas paredes, decidi entrar no templo religioso, acometido de emoção.
Neste momento, das encostas por onde passei, se espalhava sem cessar doce aroma das vassourinhas, da quixabeira, da favela, do cumaru e de outras plantas que o vento fazia circular por toda praça. Em redor da cidade e ao largo da paisagem de caatinga, nos galhos das imburanas, das aroeiras, das catingueiras e das baraúnas passarinhos entoavam sinfonia que apesar do burburinho da cidade, distinguíamos o cantar de cada um.
Quando meus pés pisaram a confluência dos rios Piancó e Piranhas, arremessando a vista sobre à ourela da correnteza, na beira da vazante com capim e mofumbos, avistei dama com divino semblante. Com ardor, a alma recolheu a melodia do vento nas ramagens das chananas e do capim que escondiam as partes íntimas da cabocla que se banhava.
Há muito espera conhecer a Igreja do Rosário, que sabia apenas pelos apontamentos históricos e pelas referências do amigo Carneiro Arnaud. Além das páginas dos livros, a cada história contada pelo poeta Solha, pelo romancista Tarcísio Pereira ou pelo historiador Verneck Abrantes, construía imagens do lugar, depois fixadas como produto de meus olhos.
Naquela tarde, depois de andar pela beira do rio, silencioso e absorto, eu caminhei pela nave, presbitério e púlpito da Igreja onde os pretos encenavam suas crenças e manifestavam sua fé. Fiz a devida vênia prolongada ao altar porque estava em lugar sagrado. Grande foi o contentamento quando entrei na Capela do Santíssimo. Quase me postei ao chão, como faziam os antigos. Vontade em excesso me deu de ficar longo tempo contemplando o belo Sacrário, ricamente entalhado em madeira.
O conjunto arquitetônico do pequeno templo religioso é de rara beleza para os patrões da época de sua construção, encanta e traz paz aos que ali chegam.
A Igreja do Rosário, importante patrimônio da História do Semiárido paraibano, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba, guarda, com certeza, muitos segredos. No decorrer dos séculos este monumento religioso transformou-se numa referência às inúmeras gerações.
Sua preservação é definida por lei. Nada pode atentar contra a integridade estrutural, pelo menos em tese. Na prática, foram registrados atos de vandalismo contra a sua estrutura. É um pedaço da História do Sertão de Pombal preservado.
Várias preciosidades foram destruídas na região enquanto produto da insensatez dos que não enxergam a importância velhos templos em estilo barroco, indispensável para a compreensão do processo gerador da expansão em direção ao desconhecido sertão de índios bravios.
A Igreja do Rosário de Pombal é uma das maiores riquezas da terra de Maringá, a cabocla da música que se tornou patrimônio da Paraíba. Mesmo que vilipendiado, como bem coletivo dos sertanejos, este monumento suscita conscientização acerca da preservação de nossos prédios históricos, e, consequentemente, de nossa cultura e, mais ainda, das origens da civilização no Sertão.
Este templo só passou a ser conhecido quando o mítico negro Manoel Cachoeira conseguiu convencer representante da Igreja em Olinda, a oficializar a festa do Rosário, trazida com clara vinculação das revelações religiosas, fazendo referência ao que os escravos passaram no cativeiro.
Essas colocações são apontadas pelo professor José Romero Araújo Cardoso, historiador que possui trabalho sobre este monumento.
Outro que me apontou caminhos até chegar ao conhecimento desta Igreja foi o amigo Umbelino Peregrino de Albuquerque. Este pontuou ser “não só a igreja, mas toda a manifestação cultural advinda dela”, que nos encantam e emocionam.
A Igreja, construída em 1721, é um “típico símbolo da arquitetura barroca rural do século 18, e recebe, todos os anos, a festa do Rosário”. Sabe-se “que conta com muitas manifestações de sincretismo religioso, como Os Negros dos Pontôes, Os Congos e o Reisado”, e o novenário em latim que acontece durante as festas é uma coisa secular. Esse patrimônio imaterial também precisa ser protegido”, comentou o estudioso das artes.