Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892–1940) foi ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo alemão. Em seu livro...

Perda da ''aura'' da Arte

Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892–1940) foi ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo alemão. Em seu livro A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (1934), o pensador alemão discorre sobre a importância da tradição cultural que a obra de arte irradia e como uma reprodução técnica desconstrói a originalidade e a memória afetiva na obra artística. Para ele, uma imagem estética tem um significado maior quanto mais autêntica for, uma vez que existem compreensões
Fonte: Ak. Künste, 1928, Wikimedia, PD
incompletas e uma subjetividade que se expande conforme a interpretação de cada espectador. A arte é analisada enquanto linguagem.

A origem da obra de arte — para Walter Benjamin — surge no contexto histórico e antropológico, isto é, a tudo e em meio a ela, que se refere a uma fragmentada identidade social e humana. Esse processo inicia-se no artista criador e se manifesta como uma recordação a que se está participante na própria arte. A filosofia tem a função de tematizar essa lembrança em suas manifestações, as quais se dão de forma linguística, em que se interpreta o objeto da memória que está em forma de arte. Por consequência, nunca se tem interpretações idênticas umas às outras quando se busca uma origem cultural, bem como uma tradição.

No livro, Benjamin argumenta que a popularização da reprodução técnica resulta na perda da singularidade, da unicidade e da autenticidade da obra de arte. Em seu lugar, surgem produtos culturais em massa que alienam os cidadãos. A reprodução aproxima o indivíduo da obra, mas retira a "aura" da obra de arte, ou seja, sua "essência". O filósofo alemão defendeu o retorno aos padrões estéticos e das técnicas artísticas da antiguidade para preservar a originalidade da arte.

Fonte: Open Culture
A falta de originalidade na obra gera um declínio em sua "aura". Por exemplo, a fotografia ao registrar a singularidade de uma imagem perde sua unicidade, pois aquilo que era único passa a ser múltiplo, estando em vários lugares em simultâneo. Para o pensador, as diversas técnicas de reprodução de obras de arte não apenas trazem uma mudança quantitativa, mas também uma mudança qualitativa, alterando a essência da obra de arte.

A destruição da "aura" também ocorre por influência social, que se refere ao desejo constante de possuir a obra, como um fetiche ou culto à mercadoria. Isso faz com que sua exposição adquira novas funções, tornando-a vulgar. As técnicas de reprodução das obras contribuem para o interesse do sistema econômico, que busca aumentar o consumo de produtos culturais, transformando-os em mercadorias.
Imagem: C. Joel, 1929, via Wikimedia, PD
Benjamin mostra – no livro - que isso afeta as pessoas em geral, fazendo com que elas não usem a arte para mudar a sociedade. Isso faz com que as pessoas fiquem alienadas e não pensem criticamente.

A queda da importância social da arte resulta no enfraquecimento do gosto estético e do pertencimento nos espaços artísticos. Entretanto, segundo Benjamin, o cinema é mais eficiente na ilustração das teorias freudianas sobre as pulsões do inconsciente por meio da representação da realidade, portanto, essa arte revela detalhes da vida cotidiana que despertam o interesse do cidadão para a análise existencial. Essa forma de expressão artística reproduz o dia a dia de maneira mais precisa do que a pintura e até mesmo do que o teatro, uma vez que o cinema é capaz de destacar certos elementos que o teatro não conseguiria.

O ensaísta alemão argumenta que a natureza capturada pelas câmeras difere daquela observada pelos olhos humanos. Isso ocorre porque as câmeras substituem o espaço em que o indivíduo age conscientemente, eliminando a ação livre e o amplo campo de visão para focar na imagem desejada. Por exemplo: nas telas de cinema, o olhar não se fixa, pois, ao capturar uma imagem, outra surge imediatamente, o que deixa pouco ou nenhum tempo para contemplação e reflexão. Pinturas exigem concentração e imersão do espectador na obra, permitindo que ele seja envolvido por ela.

Fonte: Open Library
Da mesma forma que a psicanálise expõe o inconsciente pulsional, a técnica cinematográfica permite a manifestação do inconsciente pelo sentido visual. A câmera possibilita que o sujeito visualize imagens que antes eram imperceptíveis ao olho humano, estimulando o surgimento de uma nova realidade através de uma nova percepção. No entanto, quando há a oportunidade de um novo relacionamento das massas com a arte, esse processo se torna um meio eficiente de renovação das estruturas sociais.

Ao levar as técnicas de reprodução à proximidade de inúmeros espectadores, as obras de arte constituem um veículo que democratiza a cultura, garantindo a todos o direito de apreciar as criações artísticas. Assim, elas tornam-se acessíveis às massas por meio de linguagens visuais, apesar da ausência de sua originalidade, ou seja, há a perda da “aura” da arte.

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