"“Não me lembro da minha infância. Fui, provavelmente, infeliz como todos os burrinhos, bonito e gracioso como sempre somos; tive, certamente, muito espirito, porque ainda hoje, apesar de velho, tenho mais do que todos os meus companheiros juntos. Escoucinhei, mais de uma vez, os meus pobres donos, que, sendo apenas homens, não podiam ter, por consequência, a inteligência de um burro.
Começarei por contar uma das partidas que lhes fiz, nos tempos recuados da minha primeira mocidade.”
Começarei por contar uma das partidas que lhes fiz, nos tempos recuados da minha primeira mocidade.”
Condessa de Ségur¹
Memórias de um BURRO. Esse é o Título do primeiro livro que li em minha vida. Lembro como hoje!
Mas lembro, mais ainda, aquela manhã, na turma da quarta série, que funcionava na primeira sala localizada no sentido oposto ao delicioso Pavilhão do Grupo Escolar Antônio Francisco Duarte de Aquino…
Quando chegamos para a aula, a Professora já se encontrava e, sobre sua mesa, uma enorme pilha de livros. A curiosidade foi intensa e não tínhamos a menor ideia do que se tratava.
Mas lembro, mais ainda, aquela manhã, na turma da quarta série, que funcionava na primeira sala localizada no sentido oposto ao delicioso Pavilhão do Grupo Escolar Antônio Francisco Duarte de Aquino…
Quando chegamos para a aula, a Professora já se encontrava e, sobre sua mesa, uma enorme pilha de livros. A curiosidade foi intensa e não tínhamos a menor ideia do que se tratava.
Cumpridos os rituais necessários que incluíam, antes da chamada, a oração do Pai Nosso, para nossa surpresa e alegria, os livros foram distribuídos a todos os alunos com a recomendação de que deveriam ser lidos em um determinado espaço de tempo. Não havia necessidade de fazer nenhum relato da leitura a título de notas, o único objetivo, era o de que lêssemos!
Na tarde do mesmo dia, o trabalho foi iniciado. Numa rede que atravessava a sala de minha casa, armada quase rente ao piso, minha Mãe, deitada, me auxiliava no inicio da aventura. Já eu, sentado no chão, segurava, desengonçadamente, aquele grande volume.
Foi incrível!
Claro que, em grande parte, o texto foi lido por ela, sobretudo aquelas que os meus parcos saberes ainda não permitiam decifrar… Mas, paciente, ela me fazia tentar, até reconhecer a escrita e os seus significados. Assim, tardes após tardes, ela e eu, concluímos aquelas belas MEMÓRIAS.
CADICHON (O Burro Sábio) era o personagem central. Um “jegue” Russo, dotado de uma personalidade humana que transitava do herói ao explorado, do trapalhão à inteligência mais refinada, mas suas principais características, sem dúvidas, eram a sensibilidade e o inigualável caráter.
Então! Essa sensibilidade e esse caráter eu já conhecia na vida real, o que facilitou não só a leitura, mas principalmente a identificação com aquele protagonista que, involuntariamente, me abria o caminho das letras, e as donas desse caráter e dessa sensibilidade que eu já conhecia eram, justamente, aquela que me deu o livro e, naturalmente, a que me ajudou a lê-lo.
Assim, Terezinha Dantas cruzou a minha vida, já no final da infância e me deixou não só o conhecimento curricular daquela quarta série do primário (como se chamava à época), mas a chave de tantas portas que, certamente, nem ela imaginava quantas. Mas, ainda que a beleza da estória de Cadichon me tente, não foi pra falar dela que revolvemos esse velho Baú, e sim, de uma das Maiores Damas da Educação em Triunfo.
Terezinha Dantas, Dona Terezinha, como nós a chamávamos, emprestou o melhor de sua alma para “moldar” almas através do seu jeito, às vezes duro, quando necessários e, na maioria delas, terno, como aquele próprio das pessoas que nasceram para ser mãe de muitos destinos.
Dona Terezinha, hoje, mora na vizinha São João do Rio do Peixe e, lá, seguramente ela deve guardar tantas memórias do que ele viveu enquanto militou pela formação de minha geração, enquanto aqui, pelo hiato de sua ausência, ingratamente, essa mesma geração esquece, como que tomada de uma estranha amnésia, que a essência de sua alma paira por sobre nossa cidade, não só por sua contribuição para a educação do nosso povo, como também pela beleza de sua espiritualidade que por muito tempo residiu ali, bem pertinho da casa do Menino Deus.
Ela e Chico Filinto, seu companheiro, foram também grandes fiéis do nosso Padroeiro e operários de sua Igreja.
Quem dera, a nós, a sensibilidade de Cadichon!