Velhas roupas e novas promoções podem ser atrativas no intervalo da TV que despeja centenas de bombas que ouvimos estrondar baixo. No Sul do globo ocular os erros se repetem cometidos por outros. As caixinhas eletrônicas transmitem zilhões de informações consumidas aleatoriamente, que mal se consegue processar. O resultado é o julgamento sumário de realidades profundas. As cenas se sucedem entre o braço erguido
da vitória, as mãos no rosto lacrimoso e as ofertas da loja da esquina.
Passam rostos e cenários, meses enfileirados, calendários ultrapassados. O passado do ontem é uma fotografia borrada e apenas umas nítidas cenas captadas, pois o presente acelera para a boca do futuro voraz. Rápido, o mundo é mastigado e mesmo assim é intraduzível para a imensa maioria dos passageiros. Ao término, há a espera pela indigestão da morte.
E toda corrida é ao mesmo tempo uma espera. Pela hora do acordar e deitar o corpo, pelo sorriso do cão deitado sobre a sombra de uma árvore, pela estrada que cresce em algum ponto infinito, pelo embarque para outro destino ainda desconhecido. Há pressa para alcançar o abismo detalhado em obras de arte. Mergulhar na mente humana é pisar na movediça ponte que se abre para a passagem dos ponteiros em mais uma volta.
Tudo é uma passagem, porém quase nunca é com bilhete premiado. Pois, as estrelas brilham no céu, nas testas são bem mais raras. E isto é fundamental, já que evita uma existência ofuscada de tanta luminosidade. A escuridão facilita observar a luz. As estações cada vez mais saltam de espaços ínfimos, intercalam-se numa absurda temporalidade que se encolhe. Passos ligeiros interferem na aclimação e do calor ao frio já não há intervalos. Infelizmente, os negacionistas dividem os frutos da falta de visão e todos sofrem.
Miscelânea espalhada pelas telas em movimento. Os sentidos sentem a aproximação do caos verdadeiro anunciados pelos ponteiros em clima extremo. Porém, o homem ainda questiona o enunciado da catástrofe cantada nas primeiras estrofes. Do labirinto de palavras, surgem os monstros que emergem de mapas antigos de navegação. Novamente, é preciso evitar certas regiões.
O preço segue alto. A promoção se aproxima para corromper os planos de exorcizar a ânsia consumistas. O ser baixa a guarda e abre a mão exausta que pede trégua alhures. Dos túneis emergem sombras que trazem mortes, do alto chove mais fogo. E enquanto se aproxima um novo feriado, se corre instintivamente sem resultado. A nova veste se rasga, o velho tecido é uma linha tênue no roteiro do homem.