Uma declaração supostamente atribuída ao admirável líder pacifista Mahatma Gandhi (Mohandas Karamchand Gandhi – 1869-1948), define o verdadeiro sentido de liberdade: "A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência".1
Ser livre é, pois, questão de foro íntimo, de maturidade espiritual, de consciência, enfim. Consciência que, segundo o dicionário, se expressa como o “sentimento ou conhecimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo interior.”2 Ou ainda: “sentido ou percepção que o ser humano possui do que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais […].”2 Coerentes com esta linha de pensamento, os Espíritos Orientadores afirmam: “[…] A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso.”3
WP
Asseveram os Espíritos Superiores: “[…] O bem é sempre bem e o mal é sempre o mal, seja qual for a posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade. ”4 Esta orientação nos conduz, naturalmente aà seguinte equação, que pode ser lida em ambos os sentidos, da esquerda para direita e vice-versa:
Liberdade ↔ Consciência Moral ↔ Conhecimento do Bem e do Mal ↔ Responsabilidade ↔ Escolhas acertadas
Allan Kardec WP
As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes o homem comete faltas que, embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis. Mas a sua responsabilidade é proporcional aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. É por isso que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpado aos olhos de Deus do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos. 5
O conceito de liberdade revela-se bem mais amplo quando se considera o indivíduo como integrante de grupos ou coletividades, as quais são governadas por normas que regulam a vida em sociedade. Neste contexto, a liberdade é entendida como
1. O grau de independência legítimo que um povo ou uma nação elege como valor supremo, como ideal.
2. Conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o Estado; poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei.”6
Herbert Spencer CC0
Percebemos, portanto que a liberdade humana é sempre relativa. Segundo a Doutrina Espírita, a liberdade absoluta só poderia existir em duas situações: primeira, a de quem vive totalmente isolado, como o “[…] eremita no deserto. Desde que dois homens estejam juntos, há entre eles direitos a serem respeitados e, portanto, nenhum deles gozará de liberdade absoluta.”8 A segunda seria expressa por meio do pensamento: “É pelo pensamento que o homem goza da liberdade sem limites, pois o pensamento não admite barreiras. Pode-se deter o seu ímpeto, mas não aniquilá-lo.”9
Delacroix
Apresentamos como fechamento deste modesto estudo, um resumo das ideias de Allan Kardec – ideias muito lúcidas, diga-se de passagem – a respeito do ideal iluminista, ilustrado em três palavras: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. O texto completo do Codificador encontra-se em Obras Póstumas, o qual sugerimos ao leitor leitura atenta e reflexiva.
ABRANGÊNCIA DOS TERMOS LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE, SEGUNDO O ESPIRITISMO
* […]. Estas três palavras representam, por si sós, o programa de toda uma ordem social que realizaria o mais absoluto progresso da Humanidade, se o princípio que elas traduzem pudesse receber integral aplicação. […]. 10
* Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base; sem ela não poderiam existir a igualdade nem a liberdade séria. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é consequência das duas outras. […]. Tratar alguém de irmão é trata-lo de igual para igual: é querer para ele o que para sim próprio quereria. […].11
Falco
* […]. Num povo de irmãos, a igualdade será consequência de seus sentimentos, da maneira de procederem, e se estabelecerá pela força mesma das coisas. Qual, porém, o inimigo da igualdade? O orgulho, que leva o homem em toda parte à primazia e ao domínio, que vive de privilégios e de exceções […]. 13
Kipp Soldwedel
Conclui-se, pois, que a primeira equação aqui proposta (Liberdade, Consciência Moral, Conhecimento do Bem e do Mal, Responsabilidade, Escolhas acertadas) só se efetiva, concretamente, se for completada por outra equação: a que determina ser a liberdade guiada pela fraternidade e pela igualdade.