Cozinha francesa
Aubergine é berinjela e courgette é abobrinha,
artichaut é alcachofra, ciboulette é cebolinha.
Coriandre é o coentro e cumin é o cominho;
a pimenta é poivre para dar um bom gostinho;
a batata, dita inglesa, lá se diz pomme de terre
o tomate é la tomate, on n'a pas besoin de guerre.
O arroz se escreve riz, haricot é o feijão,
com a carne, que é viande, está pronta a refeição.
Epigrama II
À table avec les amis
Du fromage et du bon vin; des amis, une belle table;
de petits entretiens, des moments très agréables.
Epigrama III
Receita de Couscous
Pra fazer um bom couscous, pro almoço domingueiro,
sempre é bom acompanhar um guisado de carneiro.
Costelinhas dianteiras, com o osso bem serrado,
vão nos dar molho gostoso e bastante concentrado.
Pise alho descascado, junte sal pra fazer pasta,
rale um pouco de gengibre, de pimenta um pouco basta,
corte a gosto a hortelã, ponha um pouco de alecrim:
o tempero está pronto, mas não é ainda o fim.
Com o carneiro temperado, descansando em um cantinho,
faça, então, um refogado com tomate picadinho,
com cebola e com alho, para realçar sabor:
com certeza a vizinhança vai lhe dar grande valor.
Coza tudo em fogo brando, refogado o carneiro,
depois cubra com água quente e espere subir cheiro.
Enquanto a carne cozinha, vá cortando o legume:
abobrinha e cenoura, com uma faca de bom gume,
batatinha e chuchu, que à parte vai cozendo,
com o molho do carneiro, mais e mais apetecendo.
Com os legumes e o carneiro já cozidos, fumegando,
é a hora de, então, o couscous ir preparando.
Ponha meio litro d'água, na panela pra ferver,
três colheres rasas de óleo e um salzinho não esquecer.
Com a água já fervida e o fogo apagado,
jogue a sêmula na água, pra o couscous ficar inflado.
Depois de sete minutos, a manteiga vá passando
e com um garfo alongado, os grãozinhos vá soltando;
tudo estando bem soltinho, leve ao fogo pra esquentar
e depois de tudo quente, é servir e aproveitar.
Epigrama IV
Receita de Peito de Galinha
Pegue um peito de galinha, também coxa e sobrecoxa,
rale toda uma cebola da branquinha ou da roxa,
sal e alho pisadinho, com pimenta e açafrão
junte tudo com vinagre e também manjericão,
deixe que o tempero flua e as entranhas vá tomando,
deixe o tempo ir agindo para o gosto ir formando.
Em seguida, unte a forma, deixe o óleo esquentar,
ponha a chama em fogo brando, para o acepipe assar.
Depois que estiver assado, com um toque se encerra:
ponha um pouco de manteiga, dita manteiga da terra.
Depois sirva à vontade, com cebola e tomate,
com arroz e macaxeira, e cerveja pro arremate.
Epigrama V
De como a Lei de Lavoisier se aplica na cozinha
A cozinha é o espaço próprio a Lavoisier,
o que sobra do almoço jamais deve se perder.
Não se cria uma comida, nem perdida ela se encontra,
com o resto que sobrou, a transformação é pronta.
Abra a sua geladeira, vá catando o que resta:
a metade da cebola, o tomate que ainda presta;
pegue o coentro e a cebolinha, que já mostram um cansaço,
e aquele pimentão que, há tempo, ocupa espaço,
pique tudo e deixe ao lado, pique charque de coxão,
tire o sal na escaldadura, lave-a e leve-a ao fogão,
ponha um pouco de corante e cozinhe por meia hora,
fogo brando, meia tampa, sem ter pressa e sem demora.
Sabe aquele seu arroz, que resiste a terminar?
Ponha dentro da panela, com o charque a cozinhar.
Depois de uns bons minutos, jogue toda a verdura,
mexa para misturar e tomar boa fervura.
Sem deixar que a verdura se desfaça ou amoleça,
saboreie o arroz de charque e que a comida apeteça.
Epigrama VI
Cozinha não é só fazer comida
Lavar louça é exercício que da arte é companheiro:
lavar prato, por exemplo, semelha a tocar pandeiro.
Uma mão segura o prato e a outra o ensaboa,
como a mão batendo o couro, mão no prato não destoa.
Tendo ritmo e harmonia, só resulta o que é supimpa:
no pandeiro, boa música; na cozinha, louça limpa.
Epigrama VII
Gastronomia milloriana
Não existe gororoba que não fique apetecida,
com um ovo frito em cima, com a gema mal cozida.
Epigrama VIII
Cozinha é ritmo
Na batida do pilão, quando o alho se espapaça,
Surge um ritmo que a Hermeto pode vir a fazer graça:
Batiuálho, pisuálho iusámba nacozínha,
crescichéra iagráda, percutíndo navizínha.