No teatro Pantomima presenciamos uma apresentação na qual metade do sentido da obra surge através dos gestos dos atores. A outra metade, você mesmo cria a seu bel-prazer.
Em sua mente, pode aparecer uma cena de horror quando seus dias estão carregados, ou uma paisagem deslumbrante, sinônimo de como você está de bem com a vida. A metade imaginada ao vivo tem o mesmo gosto do prazer exclusivo de nossa escolha, porque somos egoístas no quesito felicidade empacotada nas mãos, à disposição de um instante para se expor ou para enxugar os olhos marejados.
Mas se a cena no palco partir de seres sem rosto, recém chegados nesse planeta, descobrindo o mundo como se acabassem de nascer, o que você escolheria para começar tudo de novo? Onde iniciaria sua desventura repaginada com uma lista de quero mais isso? Ou nunca faria novamente o que tanto o desgastou?
O silêncio das ideias traz à tona o sonho, a espera de um despertar magoado pela demora em se desmanchar em vida. Nem todos os atos nos levam a ser o "Lanterne Rouge", expressão tirada do transporte ferroviário, popular no século XIX, como o último vagão do trem que acendia uma luz vermelha para mostrar que era, de fato, a última composição.
Nossas escolhas estão sempre em transformação. Elas se modificam na fila da esperança quase todo santo dia. Por isso, fica difícil nos chamar de Lanterna nesse campeonato da existência.
Manter-se à frente das novidades nos permite escapar da sinfonia do Flautista de Hamelin, que conduziu a seu interesse cento e trinta crianças para uma caverna sem saída.
"Ao final de tanto viver, não tenha pena dos mortos, mas sim dos vivos, dos que vivem sem amor", propõe J.K. Rowling.