Essa é uma história verídica muito interessante principalmente àqueles que já estão na “fase da comodidade”. É comum aos que avançam no tempo da vida dar-se ao direito de um pouco mais de conforto. Portanto, comodidade na melhor idade é inteligente merecimento. A tal melhor idade, maior idade, que muitos não acham nada boa, é melhor que se chame idade da comodidade.
Há muita resistência em aceitar a velhice, sempre acompanhada de limitações, variações da saúde, mudanças na aparência – que jamais deveriam ser rejeitadas, e sim assimiladas com a mesma sabedoria que observamos as belezas que o tempo imprime na Natureza. Os preconceitos e a discriminação, em parte, contribuem para essa resistência, mas, quanto mais se evolui em espírito e verdade, termina-se vencendo-a.
Curiosamente, tal rejeição se estende justamente aos acessórios que ajudam a dar segurança na fase da comodidade, como a bengala, a cadeira de rodas, o andador, as barras de acessibilidade. Em vez de se dizer: “Isso é coisa de velho”, dever-se-ia lembrar de que aceitá-los e usufruí-los é uma questão de sabedoria.
Pois bem, a história mencionada no início se reporta a quando finalizávamos uma deliciosa viagem pelo interior da Alemanha, em que percorremos as pequenas cidades onde o compositor Johann Sebastian Bach viveu. Ocasião em que produzimos um documentário sobre sua vida, desde que nasceu, em Eisenach, na Turíngia. 👉🏽
A última parada foi em Berlim, a monumental capital do país, onde assistimos à oitava sinfonia de Bruckner, com sua aclamada Filarmônica, um antigo sonho de nosso pai, Carlos Romero, extraordinariamente realizado.
Berlim é imensa. Avenidas largas, extensas, que se ampliaram ainda mais com a queda do muro. Bela metrópole onde a modernidade evolui permanentemente em pulsante e incomparável ritmo de desenvolvimento. Ao sair de lá, fica sempre a pergunta “quando veremos Berlim pronta?” Nunca, pois ela está incessantemente em obras.
Cientes da dose de sabedoria do cronista Carlos Romero, que viveu muito bem sua “idade da comodidade”, tivemos a ideia de alugar-lhe uma cadeira de rodas. Dada a eficiência dos serviços de mobilidade urbana, ao chegarmos no hotel, a cadeira, que foi escolhida pela Internet em Leipizig, já nos esperava no guarda-volumes. Foi só o tempo de subir, tomar uma boa ducha e descer para ganhar as ruas de Berlim.
Com que maciez deslizávamos pelas majestosas avenidas Kurfürstendamm, Unten den Linden, Friedrichstraße, revendo o Portão de Brandenburgo, a Coluna da Vitória, os imensos parques berlinenses, a Ilha dos Museus, a Potsdamer Platz, com direito a uma boa Schneider, no Tiergarten, à beira do lago Neuen! Ou seja, batemos Berlim de ponta a ponta, da oriental para a ocidental, tudo a pé e sobre rodas.
Considerando alguém que está na idade da comodidade, que, apesar de uma grande disposição, já não caminha com a mesma facilidade e rapidez, não haveria melhor ideia. Assim, aos amigos mais avançados no tempo, que sabem curtir a vida e gostam de viajar, vale a esperta e amável recomendação: aproveitem os benefícios e o conforto da tecnologia, deem férias também aos pés e andem sobre rodas!
Germano, Alaurinda e Carlos Romero (Paris) ALCR