A importância da leitura

Compreende-se a leitura como sendo uma das formas de um sujeito adquirir o letramento escolar para que assim possa atuar socialmente e exercer sua cidadania. Não há como pensar a ideia de pertencimento sem fazer a travessia pela leitura, dado que cabe à escola apresentar tradições, costumes, a cultura da comunidade local e mundial para que os estudantes tenham ciência de sua atuação dentro do contexto sócio-histórico em que se encontram.

Por isso, salienta-se que a leitura não se restringe apenas ao mero processo de decodificação das palavras, mas a vários níveis de conhecimento que são acessados durante o ato de ler. Reforça-se também a importância do conhecimento

Iara Correia

dos gêneros textuais, o que se inclui na categoria de conhecimento linguístico e interacional, a partir de situações concretas de comunicação. Ser leitor proficiente passa por esses caminhos nos quais o leitor deixa de ser passivo para assumir um papel ativo, de produtor, tornando-se um profícuo investigador das pistas que o texto oferece para assim ser bem interpretado.

A compreensão de um texto atravessa a mera decodificação das palavras, está para além dos conhecimentos da gramática normativa, o que não quer dizer que se deve desconsiderá-la, afinal a sintaxe, a morfologia, a semântica e a fonologia se unem à análise do discurso, à linguística textual, à pragmática e a outros componentes da língua(gem) para constituir um idioma e, por conseguinte, a comunicação que coloca os seres humanos como agentes na sociedade.

Importa destacar a leitura como um processo que requer do leitor uma postura ativa diante do texto para que esse indivíduo reflita sobre o que está lendo e consiga se apropriar das informações e vinculá-las ao seu propósito de leitura. Assim como o autor tem um objetivo ao escrever um texto, o leitor também deve tê-lo quando se disponha a ler.

Nguyen Thu Hoai

Para que a leitura ocorra proficientemente, é preciso reconhecer sua importância, a fim de que exista uma sociedade efetivamente inclusiva e democrática. É evidente que a escola e seus agentes (professores, diretores, gestores regionais nacionais) não podem se abster da tarefa de promover o acesso a livros e a gêneros textuais diversos. E cabe destacar que o professor de português não deve ser o único responsável pela promoção da leitura, pois esta não se limita a textos literários, afinal os alunos não só se interessam por textos de não ficção, como também necessitam conhecê-los para desenvolver suas habilidades de leitura e escrita.

M. Dalangan

Se todos os professores não estiverem comprometidos em ensinar leitura considerando as diversas práticas pedagógicas, dificilmente o analfabetismo funcional será vencido. Não se trata apenas de ensinar a ler, mas de fato levar os alunos a se envolverem com a leitura nas diversas práticas sociais, vinculando-a à escrita.

É fato que a Educação básica, sobretudo na Escola pública, enfrentou e enfrenta diversos desafios para que a leitura se desenvolva de maneira eficaz, por isso que tanto se insiste que os alunos tenham ao menos o direito

Kornél Máhl

à compreensão de textos da sua esfera social. Antes disso, não há como se pensar que eles conseguirão produzir um texto como o exigido pelo Enem, cuja redação requer forte engajamento social, por solicitar do candidato uma proposta de intervenção a um problema social evidenciado pelo recorte temático da prova.

O que justifica uma pessoa ter passado mais de 12 anos na escola e ainda apresentar sérias dificuldades relacionadas à leitura? Evidentemente, não são fatos isolados. Assim, é necessário que haja mudanças nas práticas de leitura e que sejam apresentadas estratégias para que os discentes sejam inseridos em abordagens sociais de leitura. Sabe-se que há tempo existem muitas teorias, obras relevantes para modificar esse cenário em que a exclusão social se perpetua pela falta de letramento.

Diante disso, se a escola é o principal lugar onde as práticas de letramento são desenvolvidas e é o espaço que proporciona (ou deveria proporcionar) a mobilidade social, é urgente a necessidade de reinventar e/ou aprimorar as práticas pedagógicas para que não haja a estagnação do processo educativo.

Texto publicado em A União em 07/04/2023

---