A luz brilhava no céu feito a ponta de um lápis marcando uma página de azul escuro. A luminosidade fazia uma longa curva. Os olhos mal puderam perceber o rabisco do corpo celeste em deslocamento. Beleza celestial. De volta à terra e a pseudo normalidade, a visão era de uma paz tranquilizadora. Os espaços vazios entre as cidades assemelhavam-se como vácuos da loucura humana, um intervalo para apenas observar a calmaria, escutar o silêncio. Logo, as luzes artificiais ofuscarão o céu e impossibilitarão observar as infinitudes do espaço.
Faróis de carro amontoados perdem a poesia de quando desce a chuva sobre seus feixes de luzes. Os prédios-armários de gentes criam um sufocamento coletivo e emitem raios de indiferenças pelos indivíduos. As cidades quando se aglomeram lançam névoa sobre poesias e aceleram a vida. É preciso respirar e ter olhar atento para encontrar na multidão as luzes da leveza. Elas existem, mas devem ser coletadas como pérolas em ostras, se faz necessário procurar, ter o merecimento de enxergar e reconhecer o belo. Por outro lado, as cidades podem ser armadilhas de luzes e sombras.
No fim do túnel nem sempre há luz. Por vezes, a intolerância, a destruição e até a falsa luz da armadilha está do outro lado. Do contrário, túneis podem ser passagem, proteção e salvação. Que através deles se levem ar, amparo e alimentação. Que sejam saída, não prisão, seja de pensamentos, ideias, pessoas ou liberdade. Um túnel pode ser uma cela infinita ou a porta de saída. Antes a segunda opção.
Enquanto isso, a vela queima e ilumina, joga luz. Ela busca numa tentativa desesperada encontrar um caminho, também guia a alma já saída do corpo cárcere, clama por misericórdia, cria seres ao cinematografar as paredes lisas. Forma, deforma, balança, gira, rodopia e apaga. Fim da pálida luz. E até ao findar-se espalha luz nas possibilidades de mundos ao fechar os olhos.
Longe dali, os céus brilham com riscos de máquinas destrutivas. Assemelhavam-se a fogos de artifício quando subiam, mas continham a morte em suas pontas. Lanças de destruição apontadas para todos os lados. Das planícies da Ucrânia, pelas estepes russas, pelo deserto israelense e sobre os intensos aglomerados de palestinos na Faixa de Gaza. Também pipocam no Iêmen, são balas traçantes pelas ruas haitianas, lotam as prisões em Myanmar, no morticínio imparável na Síria, no Iraque... nos morros cariocas. Não há sorrisos após o colorido luminoso do pipocar do brilho da guerra, que só traz escuridão. Bestialidade humana.
Independente de bandeiras e das cores, eu chorarei pelos mortos, feridos e órfãos da humanidade, vítimas da insanidade.