Cheguei por aqui pela primeira vez num ensolarado 31 de janeiro, no distante 1 987. Diriam os que me conhecem...

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Cheguei por aqui pela primeira vez num ensolarado 31 de janeiro, no distante 1 987. Diriam os que me conhecem ter sido uma paixão à primeira vista pela terrinha. Devo admitir que sim, pelo menos é o que vem demonstrando essa relação que já apagou 36 velinhas no verão que passou.

Fui me adaptando à culinária, aos costumes, às criaturas e principalmente à cultura. Bom demais viver por aqui. No balanço do “deixa a vida me levar” fui observando o jeito irônico de se pilotar a vida aqui nestas latitudes e fiz essa constatação ao observar o nome de alguns botequins. Permitam-me fazer algumas alusões a esses detalhes (nomes de botecos), haveria outros no bojo da minha assertiva dita linhas acima, mas me reservo ao direito de revelar só em uma próxima oportunidade, se esta houver.

Vamos lá. Nos meus primeiros dias por aqui, dando um giro lá pela Praia do Poço, encontrei o Bar do Mijo. Duvidei do que viam meus olhos, mas era a verdade. Acabei tendo que concordar; pois afinal, bar onde se vende muita cerveja, nada de anormal nesse batismo diurético que a princípio me surpreendeu.

Mais à frente encontrei uma outra birosca cujo nome se referia à genitália feminina. Não ouso revelar nestas pudicas páginas de nossa tradicional gazeta o que li no letreiro daquele estabelecimento.

Não bastasse, encontrei mais uns dois ou três praticando esse ineditismo ao nomear um bar, uma venda, com um nome esquisito e provocativo.

Mas o que me chamou mesmo a atenção foram dois outros estabelecimentos ali na divisa das praias de Manaíra e Tambaú. Uma tristeza saber que não existem mais. Um ousado projeto de urbanização em nossa orla defenestrou a barraca do Pau Mole e sua contígua, a do Pau Duro. Uma delas, a primeira, soube que ainda sobreviveu por uns tempos em outro endereço, sem no entanto, a mesma acepção e encanto daqueles tempos.

Não pensem espíritos menores que esses dois últimos estabelecimentos citados façam alguma alusão à condição erétil de nossos varões. Nada disso. Essas marcas eram, na verdade, uma homenagem a representantes de nossa flora arbórea. Achei muito patriótica e ecológica a referida homenagem.

A barraca do Pau Duro fazia loas aos paus d’arcos, aroeiras, ipês, cabriúvas, sucupiras, angicos, perobas, jacarandás e ao nosso pau mais nobre, o brasil. Já a do Pau Mole, estava ali para lembrar com todas as referências ao tamboril, à araucária, à caixeta, à madeira de balsa e outros paus de mesmas características. Os habituês destes dois emblemáticos botequins, já estavam em sua maioria, fazendo hora extra no calendário; ou seja,

com a certidão de nascimento vencida. Gente de alguma posição na sociedade local e com uma característica importante: não se misturavam! Quem frequentava uma barraca não frequentava a outra e vice-versa.

Mais alegres e extrovertidos eram os frequentadores da barraca que fazia reclames das gimnospermas, árvores que não desfolham durante as estações e têm crescimento mais rápido, são mais porosas e seus lenhos menos densos; ou seja, são mais moles esses paus. Servem para a fabricação de aglomerados, madeiras compensadas, engradados ou atribuições menos nobres nas edificações.

Mais exibidos, mais cheios de si, vangloriando-se de uma suposta virtude erétil eram os que frequentam a barraca cujas madrinhas eram as angiospermas, aquelas árvores que perdem as folhas em certas épocas do ano, depois renascem e florescem. São madeiras mais densas, não são porosas, crescimento lento. São paus bem mais duros e de vasta aplicação na construção civil e movelaria.

A supressão desses dois botequins deixou a cidade mais triste. Poderiam ter sido preservados, Fico imaginando o cenho entristecido de nossos velhinhos que viram demolidas suas catedrais onde vinham praticar “suas rezas” nas manhãs de sábados e domingos.

Era curioso ver os turistas que, entre o sorriso e a surpresa, paravam em frente aos dois botecos para fotografar as placas com suas respectivas marcas. Deviam se encantar com aquele tributo ecológico que só poderiam encontrar na cidade mais verde do país. Mas não se arriscavam a tomar umas e outras, nem em um nem em outro. Aquelas barracas eram dos nossos velhinhos, ou de um mocetão enxerido que eventualmente aparecesse por lá. Só deles.

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