Preciso ligar para meu amigo Helder Moura. Não converso com ele desde que o bloqueei no Messenger, no Instagram e no WhatsApp. Ele mesmo, nosso Helder, o jornalista talentoso, o escritor admirável, o amigo de todas as horas, o camarada inscrito nas hostes dos imortais, porquanto membro festejado da Academia Paraibana de Letras.
Helder é daqueles que a gente aponta, sem esconder a vaidade, quando citado numa roda de conversa: “É meu amigo do peito”. Exatamente como faço em relação a velhos companheiros do batente nas Redações paraibanas, gente como Gonzaga Rodrigues, Rubens Nóbrega, ou Chico César. Este último, a quem dei o primeiro emprego em jornal, me abandonou, afortunadamente, em busca dos palcos do mundo. E, desde então, tem em mim mais uma de suas inúmeras macacas de auditório. “É meu amigo bem chegado”, costumo responder sempre que um desses três seja, ocasionalmente, tema de um ou outro bate-papo.
Bloqueei Helder sem pensar duas vezes, sem a menor relutância, minhas e meus camaradas. Tudo, porém, por conta do Agent Mark. Sabem não? É o cara de meia idade, olho azulado, sorridente e bem penteado. Sem mais nem menos, o perfeito WASP, sigla em inglês para branco, anglo-saxão e protestante. Esse sujeito tem falado, a torto e a direito, em nome do DHHS, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Cuidado com ele.
Pois não é que recebi recado no Messenger com a cara e o número de um Helder felicíssimo pelo prêmio de 300 mil dólares a si conferido por um tio em comum, o velho Sam, criatura das mais cristãs, das mais solícitas e dadivosas!
Dólares, meus caros, para um Helder que não precisa dessa ajuda concedida, via Agent Mark, a título de amparo aos velhinhos do planeta, aos carentes de juventude, saúde e dinheiro. Segundo a mensagem, eu tenho meu nome e tenho foto minha na lista dos assim premiados pelo DHHS. Se Helder, quem nem idoso é, abiscoita US$ 300 mil, imagina, então, o quanto caberia a mim que já sinto saudade dos 70 redondos e há muito me queixo da falta de saúde e grana.
Ligo para Helder, sem haver atendido ao pedido para abrir o link da premiação que então me fora remetido, dele ouvindo: “Você é um dos cinquenta que já me telefonaram com esse aviso. Me raquearam o Face, o Instagram, o Zap, o diabo a quatro”.
Pobre Helder. Tive que bloqueá-lo, pelo menos, até que ele recupere essas contas. Até que elimine dos seus perfis a peste eletrônica, a praga maléfica, os vírus do mal. Espalho o fato porque ele assim também o fez, a título de alerta aos amigos.
Tempos bicudos estes nos quais vivemos, minhas amigas e meus amigos. Não sei se acontece também a vocês, mas eu estou cansado de excluir pedidos de adição ao Facebook formulados por deusas louras, várias delas envergando, com galhardia, a farda da Marinha de Guerra dos Estados Unidos. Semana passada, deletei um coronel daquelas bandas. Deste não me compadeço, mas tenho pena de Dayse, Kelly, Mary e Suzan. Que olhos, que bocas. Perdão, meninas, mas a desconfiança crônica, orgânica mesmo, me leva a rejeitá-las. Em rio de piranha, jacaré nada de costas, diz-se, por aqui, minhas queridas.
E, aqui para nós, preciso confessar. Tenho, há muito tempo, uma certa repulsa a tais guerreiros e guerreiras. Que as moças disso não saibam, mas, nos meus idos de faroeste, das cadeiras do Plaza e do Cine Rex, eu já torcia pelos índios nas brigas com a Cavalaria. Posteriormente, me veio a leitura daquela frase lapidar proferida pelo velho Porfirio Diaz, muito depois de haver perdido o Texas: “Pobre México. Tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”.
Dali, mesmo, eu somente gosto da gente de paz, dos gênios da literatura, da música, das artes cênicas. Enfim, das coisas que edificam, tocam a alma, envolvem, comovem e, por conta disso, fazem bem à humanidade. Não é não?