Jornais eletrônicos e de papel e tinta anunciam o segundo eclipse antes que outubro se vá. O primeiro foi o do sol, dia 14 passado. Agora, vem o da lua, no entardecer deste sábado, 28. No primeiro caso, nosso satélite passou entre a Terra e o Astro Rei, todos na mesma linha. E decepcionou muita gente esperançosa de um espetáculo inesquecível: o da escuridão momentânea, às 11 da manhã, com galos e galinhas a subirem nos poleiros.
Ninguém se decepcionará por aqui, agora, quando o planeta onde vivemos projetar sua sombra na lua nascente. A mídia já avisa que não há muito a esperar disso, pois a área de sombreamento será mínima e, desse modo, quase imperceptível. Coisa de seis por cento do disco lunar para todos os que se puserem de cara para cima no litoral brasileiro.
“Estou nem aí”, diria meu avô Frutuoso do eclipse mixuruca deste sábado. Ele, sim, viu o dia virar noite, em 10 de maio de 1919. Na ocasião, muita gente caiu de joelhos na pequena Juripiranga e confessou os pecados ciente do fim do mundo. Alguns casamentos foram ali desfeitos em razão do crime de adultério revelado por esposas desejosas do ingresso no Céu. Estúpidas, as aves domésticas subiram e, minutos depois, desceram dos seus abrigos sem a percepção do fenômeno espantoso e, o que é mais importante, sem contas a ajustar com os maridos.
“Estou nem aí”, repito. Eu gosto mesmo é da lua cheia. Eu a quero nua, esplendorosa, exibida, sedutora. É para ela que erguerei meus olhos na noite desta sexta-feira. É por ela que vou recitar poemas. Que me venha a lua de Sérgio de Castro Pinto: “Lua das canoas do parque, transatlânticos singrando as águas da infância, indo muito além da taprobana e de passárgada”.
Eu quero a lua de Catulo da Paixão Cearense. O nome desse moço, aliás, já é uma poesia. Desejo o luar do Sertão, um sol de prata, a lua dos poetas, dos amantes, a lua do cancioneiro universal.
É bom lembrar que o mesmo Catulo versejou a valsinha do flautista Pedro Alcântara a fim de explicar o que é a dor de uma paixão. “Ontem ao luar”, fruto dessa parceria, tem acalentado sucessivas gerações graças ao talento de gente como Vicente Celestino, Altemar Dutra e, mais recentemente, Marisa Monte. E tem sido assim, mundo a fora. Dificilmente, haverá um povo que não tenha visto a lua com a lente e os modos do coração.
“Fly me to the Moon” , já pedia à sua amada, em 1954, o compositor norte-americano Bart Howard por meio da canção que Frank Sinatra e outros não menos cotados transformariam num ícone do jazz. E o que dizer do “Blue Moon” que Richard Rogers e Lorenz Hart pariram em 1934?
“Canta a lua, seminua, flor mimosa”, dizia o fado de Amália Rodrigues, o “Flor de Lua”, muito antes que Celly Campello ficasse branca como a neve. No cancioneiro italiano, ora a lua é vermelha (Luna Rossa), ora verde (Verde Luna).
Pessoalmente, lembro do bolero cantado por um Bievenido Granda com a alma aos pedaços, no início dos anos de 1960, uma vez, pelo menos, no auditório da velha Rádio Tabajara da Paraíba: “Luna, ruégale que vuelva”