Geralmente, quando se fala em invasão holandesa no Nordeste, nos remetemos sempre a Pernambuco. Porém, é inegável a participação de Potiguaras paraibanos que se aliaram aos batavos. Costuma-se minimizar a influência dos holandeses na Paraíba, pelo "curto" período de 20 anos que aqui passaram.
Estou ainda para ler "História das Lutas com os Holandeses no Brasil" de Varhagen. Ficará como leitura para o recesso forense.
Os holandeses aqui estiveram antes mesmo da anexação da Paraíba a Pernambuco (durante o período de 1756 a 1799). A invasão foi a primeira causa para interromper o desenvolvimento econômico da Paraíba em relação ao estado vizinho, reconfigurando as propriedades e concessão de sesmarias, conforme se verifica em Elias Heckermans (1639) e em Walfredo Rodriguez ("Roteiro Sentimental de Uma Cidade").
Segundo Walfredo, após a expulsão holandesa, em 1654, iniciou-se um período chamado de Restauração na Paraíba. Somente a partir da primeira década de 1700 tem início uma nova reconfiguração urbana da capital, com a concessão de sesmarias. No contexto da invasão, desponta a figura do Potiguara Pedro Poty.
Poty era natural da Baía da Traição, portanto, paraibano da nação Potiguara, assim como Clara Camarão, que liderou as mulheres de Tejucupapo contra os holandeses, e Felipe Camarão. O motivo que levou o casal Camarão a apoiar os portugueses, mesmo sendo Potiguaras, é tema para outra postagem. Mas é natural que Pedro Poty apoiasse os estrangeiros, pois os Potiguara nunca foram aliados dos portugueses.
Conforme Pedro Souto Maior (1911), ao expor as cartas trocadas entre Pedro Poty e Felipe Camarão, percebe-se o argumento de Poty de que os portugueses eram inimigos por terem começado a escravização indígena no Brasil. De fato, ao lermos "Diário de Navegação" de Pero Lopes de Souza (1530-1532), constatamos que o comércio de indígenas escravizados já existia na Bahia, onde Martim Afonso de Souza se encontrou com Caramuru, determinando a liberação de 200 escravizados de um navio, para utilizá-lo.
A prática de traficar indígenas já era corrente antes do início oficial da colonização, em 1532, conforme Pero Lopes de Souza e Washington Luís (História da Capitania de São Vicente), os quais informam que a região atual de São Vicente/Santos era conhecida como Porto dos Escravos. Pedro Souto Maior, em "Dous Índios Notáveis e Parentes Próximos" (1911), relata que Pedro Poty foi estudar na Holanda, onde adotou o protestantismo, o que também ocorreu com outros indígenas. Tal circunstância colaborou para a invasão holandesa, anos depois.
Segundo Souto Maior, tanto Poty como Camarão eram fiéis aos holandeses e portugueses, não havendo espírito de deserção. Poty liderava o Regimento Indígena na Parahyba. Os dois, às suas maneiras entraram para história mas como parte vencida. No discurso do "pouco impacto dos holandeses na Paraíba", Pedro Poty não recebe a importância devida.