Na lateral do edifício revestido de pastilhas verdes, umas plantas ornamentais na calçada lateral. Bonitas: esparramadas, em forma de ...

O jardineiro

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Na lateral do edifício revestido de pastilhas verdes, umas plantas ornamentais na calçada lateral. Bonitas: esparramadas, em forma de flechas pontiagudas. Traziam problemas, posto crescerem rapidamente, e serem abrigo de ratos vadios e cobras. Foi encontrada uma coral perigosa. Um dos moradores sugeriu substituí-las por outra: “comigo-ninguém-pode”. Logo se opuseram; ninguém evitou o desmaio de uma das moradoras. Perdeu o filho caçula, menino ainda, que mastigou pedaço da folha assassina. Passado o alvoroço, os demais condôminos concordaram em desistir da pretendida e molesta substituição. Ficaram silenciosos por falta de descobrir a sucessora herbácea decorativa.

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Albert Frank
Por acaso, um homem acionou a campainha. Entregador de pizza. Atendido e conhecido de todos, portanto de total confiança, o receptor da encomenda foi indagado se conhecia algum jardineiro, a fim de indicar uma ornamentação bonita para suceder a atual a ser sacrificada. De pronto, o rapaz disse entender de plantio. Marcaram com ele para o sábado seguinte.

Logo cedo, chegou ele com todos os apetrechos carregados por seus musculosos braços. De primeiro olhar, condenou as plantas a serem arrancadas, classificando-as como imãs de azar, atraíam malefícios ao prédio. Os moradores que circundavam o jardineiro logo atribuíram culpa àquelas plantas fartas pelos vazamentos, esgotos entupidos, rachas nas paredes. O arquiteto do edifício, também engenheiro responsável pela obra, entre os demais residentes, se viu absolvido das falhas técnicas. Decerto, aos cochichos, o condenaram pelos defeitos surgidos em quase todos os andares.

E presenciaram, solenemente, a derrubada inicial dos nocivos vegetais. O trabalho durou duas semanas. O local ficou mais limpo e arejado, pois o
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plantio das novas habitantes da calçada do edifício verde eram pequenas, economizando espaço e nada convidativas a malditos hóspedes. Um mimo, disse a moradora que sofreu o desmaio. Estão lembrados. Todos gostaram do trabalho do jardineiro. Que planta é? Ele disse ser segredo. Foram dados palpites e floresceram nomes de várias flores.

Dias após, alguém veio visitar seu Honório que, de pronto, em pijamas, abriu o portão ao neto. Há muito tempo não se viam. Aquele abraço! O avô apontou as plantinhas, orgulhoso, satisfeito por se haverem livrado das pontiagudas hospedarias de bichos perniciosos. O neto foi franco: "isso é cravo de defunto, vovô. Plantar agouro?!" Seu Honório ficou pálido. Seria necessário convocar outra reunião do condomínio...

Seu Honório era o síndico.

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