OS INFLUXOS PERENES DA VOCAÇÃO MÉDICA Toda carreira exige, é evidente, seja ela qual for, uma série de predicados daquele que pretend...

Minha homenagem alusiva ao Dia do Médico

gregorio maranon medicina humanista dia medico
OS INFLUXOS PERENES DA VOCAÇÃO MÉDICA

Toda carreira exige, é evidente, seja ela qual for, uma série de predicados daquele que pretenda exercê-la, para dar cabal desempenho às suas obrigações. Mas a medicina é, sem a menor dúvida, a que reclama, mais do que qualquer outra, maior soma de predicados específicos para bem desempenhá-la. Além disso, o seu exercício implica em dedicação plena, abnegação, desprendimento e espírito de sacrifício. Ao demais, deverá ainda o médico possuir sólidos conhecimentos básicos, técnica apurada, apego à investigação científica e amor ao próximo.

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Trata-se, segundo Okinzic, “de uma profissão única, cuja nobreza deriva do seu próprio objeto: o de avaliar o homem que atende e assiste em sua opulência, mas particularmente na sua miséria, na complexidade de sua natureza e nas relações entrelaçadas do corpo e do espírito”.

A medicina tem sido, muitas vezes, comparada ao amor. Marañon, grande sábio e escritor espanhol, que muito se ocupou desse assunto, ponderou: “A vocação genuína, poderíamos dizer, ideal, é algo muito parecido com o amor. É, disse Pierre Termier, uma paixão de amor”. Portanto, uma paixão que tem as características do amor, a saber, a exclusividade do objeto amado e absoluto desinteresse em servi-lo. Nisso se distingue o amor dessa outra paixão, tão parecida, para o qual o nosso rico idioma tem a sua palavra específica “querer”. Querer- se, por exemplo, à uma mulher com aparência de amor, mas querê-la é aspirar possuí-la: paixão portanto, radicalmente interesseira; ao passo que o amor procura servir o objeto amado, sem o querer para si, para possuí-lo. O mais alto exemplo é o seguinte: “Ama-se, mas não se quer a Deus”.

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Gregorio Marañón
“A medicina tem dois aspectos que se colocam no rol das atividades que exigem uma vocação de superior categoria, aquela que comparamos ao amor e que, portanto, requer atração intransferível para o seu objeto, espírito de sacrifício e atitudes específicas. Esses dois aspectos são: a prática gratuita e estranhável aos pobres (e quiçá, também àqueles que não o são), tantas vezes comparada ao sacerdócio, e a sua estreita aliança com a investigação científica pura. Assemelha-se ao primeiro no que tem, ou no que teoricamente deveria ter, ao exercício desinteressado da profissão militar e da advocacia. Mas, supera a ambas em sua iniludível necessidade de investigar, que tem o médico, o que é, no advogado e no militar, contigência muito acidental”.

O grande e inolvidável Miguel Couto sintetizou de forma admirável e concisa a vocação médica, ao dizer:

“A matrícula em um instituto de Medicina pode ser o fruto de um cálculo, de um sonho, de um palpite, e talvez de positiva vocação; mas o verdadeiro estudo da Medicina só se faz no hospital, de todos os modos, investigando, vendo, ouvindo, e parece que até respirando neste ambiente; assim como o verdadeiro amor da Medicina também só aqui nasce e cresce, à cabeceira dos doentes, quando a piedade pelo sofrimento
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nos invade o coração e dele se apodera, quando a luta entre a ciência e a moléstia nos empolga e toda a nossa alma vibra ante essa luta”.

“Aquele que for fechado a estas paixões, renuncie para logo ao exercício de uma arte em que há de ser um supérfluo, um vencido, um incrédulo; e, ao cabo, uma maldizente”. Silgerist, ao falar da vocação médica, assim se expressou: “De que natureza é, pois, o ideal médico? Quando analisado mais de perto, verifica-se ser ele constituído por dois componentes: Um eterno e imutável, consequente à própria essência da medicina. Mais essência da ação médica é a de socorrer ou, como dizia Paracelso – “A base da medicina é a amor”.

“Por conseguinte, o ideal médico deve consistir na vontade de socorrer, no amor ao próximo e no espírito de sacrifício. Em contrapartida, o outro componente varia conforme o tempo, porquanto cada época possui um ideal médico. Cada época exige e aguarda uma ação diferente do médico. Este segundo componente é determinado pela estrutura do ideal médico, e se confunde com a história da medicina”.

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