A mitologia da Grécia Antiga era transmitida oralmente e registrada pela escrita e manifestada por meio da arte para compreender o Universo e a natureza, como por exemplo, a existência e o propósito da vida humana. A literatura erudita auxilia na compreensão das tradições culturais e científicas que contribuem nas criações das identidades dos povos ao longo dos séculos. Essas referências analisam conceitos e são aplicados aos costumes, seja nas ciências humanas ou exatas, e são frequentemente encontradas na intertextualidade, que estabelece relações de significado entre um texto e outro, ou na transtextualidade, quando o texto vai além dos seus próprios aspectos e interage com outros textos.
Na mitologia grega, há um personagem chamado Procusto, que vivia na Serra de Elêusis, localizada entre Mégara e Atenas. Nessa região da Grécia, ao deparar-se com um viajante caminhando pela floresta, Procusto amistosamente oferecia abrigo e uma cama para que seu hóspede pudesse descansar. Comovido por essa solidariedade, o cansado convidado adormeceria e seguiria viagem no dia seguinte. No entanto, essa irresistível oferta ocultava esta crueldade: durante o período de descanso noturno do visitante, ele o silenciava e o amarrava na cama de ferro, que tinha as mesmas dimensões de Procusto. Dessa forma, se a visita fosse alta, ele amputava o excesso de comprimento para adaptá-la à cama, e aquele com baixa estatura era esticado até alcançar o tamanho adequado da cama. As vítimas não se adequavam ao tamanho da cama de ferro. Por causa disso, Procusto sempre mutilava os pés e a cabeça do sacrificado, golpeando-os com um martelo. Ou seja, eles não correspondiam às medidas impostas pelo anfitrião assassino, que direcionava todas as suas vontades perversas contra os inocentes viajantes. Seu preconceito chegou ao fim quando o rei e herói ateniense Teseu - que significa homem forte - em sua viagem para Atenas, ao enfrentar e vencer vários criminosos, encontrou Procusto. Teseu o condenou ao mesmo destino que o personagem perverso impunha aos convidados, ou seja, ele o prendeu em sua própria cama de ferro e, nela, cortou a cabeça e os pés de Procusto.
Intolerância representa o Mito de Procusto
Procusto simboliza a intolerância. Ele acreditava que, ao fazer as pessoas se ajustarem ao tamanho de sua cama, estaria eliminando as diferenças entre elas e justificando a imposição de sua própria vontade e de forma justa. Essa imposição é conhecida como Síndrome de Procusto. Ela serve como metáfora para situações em que um ou mais indivíduos impõem padrões e forçam adaptações a uma matriz preestabelecida. Isso está associado ao egoísmo e identifica pessoas que continuamente se frustram, impedindo o desenvolvimento das habilidades e competências dos outros. A inveja e o ressentimento são formas de expressar rejeição a tudo. As características dessa condição incluem ódio generalizado, humilhação e desvalorização do outro para se sentir superior, egocentrismo, insegurança, desprezo pelas conquistas dos colegas e resistência a opiniões divergentes; evitar colegas; ocultar informações importantes para obter vantagens pessoais e prejudicar aqueles que não sabem; sentir medo de desafios e de ser superado; ter aversão a se expor em situações adversas; encontrar prazer na desmotivação dos outros; ser agressivo e rude ao ser contrariado; desejar ser sempre o melhor apenas para si mesmo; não aceitar diferenças; não permitir que os outros progridam ou tenham mais sucesso do que ele; entre outros. Essas atitudes revelam o medo do fracasso ou da falta de reconhecimento individual. Podem ser encontradas em qualquer lugar. É no ambiente de trabalho, onde a competitividade e a ganância existem, que a Síndrome de Procusto se manifesta com maior intensidade.
O ambiente corporativo requer um alto nível de competitividade. As atividades exaustivas estão sobrecarregando os trabalhadores. Alguns profissionais têm medo de serem ultrapassados. Esse perfil tem prejudicado a saúde mental, causando sintomas graves. As emoções mais intensas são a depressão, ansiedade e a Síndrome de Burnout: fatiga constante; irritabilidade; dificuldade em realizar as tarefas do trabalho e isolamento. Existem tratamentos que permitem melhorar as relações sociais dessas pessoas. Alguns deles incluem a terapia cognitivo comportamental (TCC), que consiste em alterar as crenças do paciente sobre si mesmo, seu mundo e as outras pessoas. Observa-se que é possível modificar sua maneira de se sentir, seus estados de afetos e seus comportamentos. Os resultados têm benefícios restabelecidos na socialização e eficiência nas atividades diárias; a medicação psiquiátrica é geralmente usada quando a síndrome apresenta agressividade e impede ou prejudica a execução das atividades profissionais.
As doenças psicossociais se tornaram uma questão de saúde pública, elas precisam de ações preventivas, a fim de orientarem as famílias e os gestores de empresas e instituições. Faz-se necessário dar acessibilidade a todos os pacientes para as práticas terapêuticas institucionalizadas pelo Estado. Na atualidade, a péssima saúde mental de muitos cidadãos favorece a Síndrome de Procusto. Ela ameaça destruir toda dignidade humana e se expande cada vez mais.