Ele é farmacêutico/bioquímico por formação acadêmica, graduado e pós-graduado. E foi durante muitos anos respeitado professor da...

Humberto Fonsêca de Lucena, historiador de Araruna

historia paraiba humberto fonseca
Ele é farmacêutico/bioquímico por formação acadêmica, graduado e pós-graduado. E foi durante muitos anos respeitado professor da UFPB em sua área de conhecimento. Certamente deve ter influído em sua vocação o fato de seu pai, Severino Cabral de Lucena, ter sido, no século passado, dono da farmácia de Araruna, um quase médico para a população da cidade e arredores, competente na arte de receitar e manipular medicamentos, bem como no acolhimento social em seu estabelecimento, convertido em incontornável e prestigiado centro comunitário da urbe. Por essa farmácia, desfilava a cidade diariamente, desde o modesto agricultor até as autoridades locais, e a tudo isso o menino Humberto prestava atenção, gravando espontaneamente em sua memória de futuro historiador os acontecimentos e personagens antigos e recentes de sua aldeia. Esse pai admirável e essa farmácia emblemática foram posteriormente reverenciados em seu livro Memória de uma farmácia – Subsídios para a História de Araruna, saboroso relato em que o insuspeitado escritor se revela.

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Sérgio Cabral de Lucena EMEFMFM
A ciência, a docência e por fim a história. Esse o caminho profissional e humano do professor Humberto. Em tudo, a seriedade, o compromisso, a decência – e o principal, o permanente: o amor ao chão natal, à sua gente, às suas raízes. Amor que o fez decidir trabalhar silenciosamente para registrar em livros a história daquele lugar e de seus habitantes, única maneira de resgatar o passado, para trazê-lo ao presente e perpetuá-lo no futuro. Essa a sua obra em favor de sua terra, obra provavelmente maior e mais duradoura que as de tijolo e cimento, porque eterna. Daqui a cem, duzentos anos, os seus livros continuarão nas estantes particulares e nas bibliotecas, servindo de subsídio para os estudiosos de então, como costuma acontecer com os livros clássicos, que não morrem.

Podemos dizer, para usar a linguagem poética de Manuel Bandeira, que a farmácia de Seu Severino e toda a Araruna daquele tempo ficaram como o quarto demolido do poeta na Lapa carioca: suspensos no ar, intactos, na eternidade. Esse o poder da memória – e do afeto. Poder que se transforma em história quando alicerçado em pesquisa, em testemunhos e em documentos, esforço intelectual afinal materializado nos livros decorrentes. Maior homenagem à figura paterna e à terra de sua infância não poderia haver.

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Araruana em 1938 (PB) EMEFMFM
Quantos livros escreveu Humberto sobre Araruna! Vou listá-los só para que o leitor tenha uma ideia fidedigna de sua produção: Araruna – Anotações para sua história, O Velho Mercado de Araruna e seus Arredores, A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra de Araruna, Da Lagoa da Serra à Barragem de Canafístula, As raízes do Ensino em Araruna e Outras histórias de Araruna, sem falar, claro, nas dezenas de artigos esparsos publicados em jornais e revistas. Por tudo isso, o filho de Seu Severino é, sem dúvida, o maior e o mais produtivo historiador de Araruna e um dos mais importantes de toda a Paraíba, razão porque tem merecida cadeira no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.

Como se vê pelos títulos de seus livros, o objeto de estudo do professor Humberto é o que se chama modernamente de “pequena história”. Não os grandes painéis, os quadros panorâmicos, mas os aspectos locais, pessoais, familiares e comunitários, as aparentes miudezas que retratam - sociológica e antropologicamente - o cenário maior, o universal da aldeia de que falou Tolstoi. Daí a farmácia paterna, o velho mercado público, a igreja, a escola e seus respectivos atores – os principais, os coadjuvantes e os anônimos -,
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Humberto Fonsêca @poetajairolima
reconstituindo, cada qual sob um ângulo e um aspecto, a aldeia como um todo, em toda sua diversidade humana, cultural, econômica e social da época. Tudo isso Humberto fez – e continua a fazer - por Araruna.

Mas deixei para destacar em separado um notável feito seu que também tem a ver com a sua terra, mas indiretamente: a ressurreição do grande poeta ararunense A. J. Pereira da Siva, primeiro paraibano a compor os quadros da Academia Brasileira de Letras, então totalmente esquecido pelos paraibanos, que, aliás, são mestres nessa avara arte do olvido. Negro, pobre e desmazelado, esse herói ainda hoje pouco lembrado saiu da pequenina aldeia serrana e, apenas com seu talento, tal qual um Machado de Assis, logrou sentar-se à mesa da ABL, que rejeitou explicitamente, em condições parecidas, um Lima Barreto. Não é pouca coisa, realmente, tanto antes como agora. Pois bem. O conterrâneo Humberto tomou para si a missão de resgatar Pereira da Silva e meteu as mãos à difícil obra. Onde encontrar subsídios sobre alguém praticamente anônimo aqui e além? Começou então na vasta biblioteca particular do doutor Maurílio de Almeida, também historiador, fino colecionador das raridades bibliográficas paraibanas e que não se negou a ajudar o pesquisador ararunense. Depois, seguiu para os arquivos da própria ABL, onde também encontrou boa vontade por parte de seus funcionários. E assim, aos poucos, e com grande perseverança, terminou por escrever o perfil do bardo paraibano, que certamente não pretende ser a biografia definitiva do escritor, mas que se constitui, pelo seu pioneirismo, em obra de referência indispensável a todos quantos desejarem estudar a pessoa e a obra de Pereira da Silva. Através do ilustre poeta compatrício, o historiador achou outra maneira – imperecível - de enaltecer e reverenciar o natalício chão comum.

O tempo tem passado para Humberto e para todos nós, e ele continua com Araruna no coração e no pensamento. Seus trabalhos históricos sobre a cidade amada é o seu legado pessoal e intelectual. Ainda acompanha toda notícia sobre a bucólica aldeia, como fez amorosamente desde sempre. Para os historiadores e estudiosos paraibanos, seu nome é sinônimo de Araruna. E assim continuará sendo pela posteridade, pois as pessoas e os autores passam, mas os livros não.

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  1. Uma felicidade, Gil, ser surpreendida por seu artigo sobre Humberto.Um orgulho ver meu querido amigo reconhecido pelo seu trabalho de historiador incansável . Araruna é seu tema , porque é o amor de todos que vivemos lá nossa infância e mocidade na melhor convivência fraterna e amorosa que o tempo não apagou .Humberto imortaliza nossa cidade , como um presente .Ângela Bezerra de Castro .

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    1. Professora Ângela, sempre bom relembrar de sua entrevista, concedida do próprio Humberto. Entrevistador e entrevistada afinados, numa conversa saborosa! https://youtu.be/hEHa2ol5QKk?feature=shared

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    2. Samuel Amaral acima rsrs

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    3. https://youtu.be/hEHa2ol5QKk?feature=shared

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  2. Obrigado, Ângela.

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  3. Samuel Amaral30/10/23 16:41

    Excelente texto, Gil! Entrevistei o professor Humberto para o Correio das Artes sobre Pereira da Silva, que foi publicado ontem (29/10). Ele é um profundo conhecedor da poesia de seu conterrâneo ilustre. Além do mais, sua biblioteca particular é certamente uma das poucas do Brasil que dispõem de Væ Soli!, o livro de estreia de Pereira da Silva na literatura. Prof. Humberto é um dos grandes responsáveis por manter viva a memória do nosso primeiro imortal. Um privilégio conviver com ele, na certeza de que outros trabalhos ainda virão! Abraços

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  4. Obrigado, Samuel.

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  5. Modesto Siebra31/10/23 14:41

    Parabéns, caríssimo Gil Messias. Um ótimo texto. Celebrar o amigo Humberto, sua obra e sua Araruna é fazer o reconhecimento de um trabalho acadêmico ao qual este estudioso tem se dedicado com especial afeto às suas raízes e à preservação da memória.

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  6. Obrigado, Modesto.

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  7. Anônimo6/3/24 14:08

    Onde posso encontrar os livros de Humberto Lucena?

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