Os heróis caíram ao chão, incapazes da própria defesa. Um era o bonequinho do Homem-Morcego, derrubado num canto do piso, esquecido p...

Heróis pela terra

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Os heróis caíram ao chão, incapazes da própria defesa. Um era o bonequinho do Homem-Morcego, derrubado num canto do piso, esquecido pelas pequenas mãos que o dominavam. Há milhares de quilômetros dali foi por terra, melhor, cortada da conexão com a terra, a heróica e simbólica árvore do Reino Unido, serrada pelos braços de um jovem de 16 anos. O motivo, não importa. Após dois séculos sinalizando o encontro de dois cumes postos lado a lado, ela era como o buquê em representação da união. O corte implacável e inexplicável soa como o rompimento dos laços homem-natureza. Heróis por terra.

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Celyn Kang
O chão apara a todos. Sustenta o corpo fatigado da vida do pedinte, acolhe os pés de todos os sapatos andarilhos, sem nomes pomposos e rostos confusos, heróis de multidões. Eles compartilham a embriaguez da vida e nem sabem como chegaram até ali e muito menos para onde seguem. Apenas vão... Sem capas, botas, roupas coloridas e sem superpoderes. Restam-lhes as mãos e uma persistência, quase resistência teimosa em procurar a felicidade.

Alguns heróis até percebem que a felicidade está por ali, em pequenos suspiros no respiro da vida. O abanar do rabo do super cão amigo no alegre encontro, o sorriso desconhecido e um bom dia do outro lado da rua, o gole refrescante da água na boca, a música cujos acordes suaves e distantes acalmam as almas. As felicidades diárias em magias de heróis anônimos e animados.

Há confusões com pseudo heróis. Rostos toscos fantasiados que percorrem lugares como cordeiros em busca de adesões. Seres inimagináveis, os antigos lobos das fábulas como alertas para que se liguem os desconfiômetros. Eles estão em toda parte posando de mitos, mas mentem, desviam mentes, semeiam mortes. Falhas de caráter, de intenções, de comportamento. Confundem, infundem, inundam almas, destroem em nomes sacros para professar mentiras, maldades. Falsos de novas fake news ou de antigas e recauchutadas mentiras. Eles perambulam pelos caminhos e mal pisam no chão.

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Celyn Kang
Deste mundo, há heróis que se sustentam na parede. Caídas as sementes no esquecimento de um muro, lutam para brotar e esgueirar-se por entre furos de tijolos, brechas de cimento. E aparecem como milagre, crescem, caule, folhas e espanto em flor. Futuro, a planta sabe que o advir também é agora.

É o tremor da mão, são as placas apontadas para todos os lados, o ponteiro implacável que caça a hora atrasada a cada giro, os heróis do silêncio. Testemunhas dos discursos têm mais propriedade sobre a terra onde todos cairão. Melhor que os falastrões. Elas adiantam as imprecisões dos heróis para provar que os bons também são falhos, compõem incompletudes, igualmente caídos e espalhados pelas terras.

Só quem prova do pisar do chão tem reais poderes. Para os demais, resta apenas a fugacidade das frases, a efemeridade do olho. Por isso, ao final, há salvação, para o boneco do herói no chão, para a essência da árvore. Encontra-se o caminho em acordes sonoros e entende-se a língua da boca prova do suor nas paredes das taças de vinho. Felicidade está em tudo e em toda e qualquer parte.

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