Não se pode falar nas eleições gerais de 1986, que marcaram a redemocratização do país, sem fazer referência ao Plano Cruzado. O Plano Cruzado, o da inflação zero por decreto, lançado bombasticamente em 28 de fevereiro daquele ano pelo presidente Sarney, funcionou, em todos os estados, como uma espécie de anabolizante em favor dos candidatos do PMDB, apelidado na época de “ARENA da Nova República”.
Naquele ano, o PMDB, comandado pelo presidente José Sarney, que abrigava em seus quadros vários partidos de esquerda, ainda na clandestinidade, elegeu folgadamente a quase totalidade dos governadores, inclusive o governador Tarcísio Burity, aqui na Paraíba. A única exceção foi Sergipe, onde foi eleito Antônio Carlos Valadares, do PFL.
De quebra, o PMDB elegeu enorme bancada, tanto na Câmara como no Senado, numa legislatura comum posteriormente transformada, pelos próprios parlamentares, em Assembleia Nacional Constituinte.
O Plano Cruzado foi (e a história se encarregou de comprovar) um dos maiores estelionatos eleitorais da história recente do Brasil – um esquema perfeito para garantir o controle do PMDB sobre a vida pública brasileira, o que fez o partido monopolizar a Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela elaboração da Constituição de 1988.
A coisa foi tão vergonhosa que, logo no início da apuração dos votos, o plano econômico, mirabolante e irreal, foi, digamos, “flexibilizado”... Aquilo representou, visivelmente, uma armação montada apenas para ganhar as eleições, para enganar o povo brasileiro, que sempre se entrega a esses processos com extrema boa-fé.
Portanto, sem analisar os prós e os contras de nossa Carta Magna, em minha modesta opinião, não é exagero dizer que ela é filha de um golpe publicitário chamado Plano Cruzado. E com ela vamos indo, caminhando em terreno não muito sólido. Há 35 anos.
O CENTRÃO NA CONSTITUINTE
O termo “centrão” não é novo. Ele foi usado para designar os parlamentares que formavam maioria na Assembleia Constituinte que deu origem à atual Constituição, em 1988. O líder do bloco era o advogado e fazendeiro paulista Roberto Cardoso Alves, o Robertão, um dos protagonistas daquele processo político. Cardoso Alves é autor da frase: “A esquerda e a direita devem entender que a Terra gira em torno do centro”. Nas votações, ele, parodiando São Francisco, lembrava sempre aos parlamentares: “É dando que se recebe”. Em tempo: Robertão, do PTB, era líder do governo Sarney, do PMDB, e articulador de confiança do presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulisses Guimarães, outro velho cacique do PMDB.